Dirigentes preferiam que Governo tivesse alargado aos docentes a possibilidade de recorrerem a escolas de acolhimento.
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A decisão do Governo de permitir aos funcionários em teletrabalho, incluindo professores, que peçam o apoio extraordinário à família para acompanharem filhos até aos 10 anos fez soar campainhas nas escolas. O presidente da Associação de Diretores (ANDAEP), Filinto Lima, teme que a medida, apesar de "justa", possa deixar alunos sem aulas. Na próxima semana, o Governo irá reavaliar a reabertura das escolas. Ontem, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, frisou ser cedo para se pensar em desconfinar.
"Um processo de substituição moroso, associado a grupos de recrutamento quase desertos, especialmente em algumas regiões, pode resultar em muitos alunos sem aulas, a pelo menos uma disciplina, até à reabertura das escolas", teme Filinto Lima.
Num inquérito da Federação Nacional de Professores, 22% dos docentes responderam ter filhos até aos 12 anos. "Cerca de 20 mil, mas com filhos até aos 10 anos serão menos. Ainda assim, a medida pode tirar vários milhares de professores do ensino à distância", estima Mário Nogueira.
Tanto Filinto Lima como o presidente da Associação de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira, garantem ter nota, na generalidade dos agrupamentos, de casos de docentes que reportam dificuldades em conciliar as aulas e o acompanhamento aos filhos pequenos em casa.
"Há professores que estão a dar aulas com filhos ao colo", garante Filinto Lima. Os diretores, recorde-se, podem pedir a substituição de docentes quando as baixas são superiores a um mês.
Sem plano de regresso ao ensino presencial, o JN interpelou o Ministério da Educação sobre se as escolas vão poder pedir a substituição dos docentes que optem pelo apoio à família e se o processo será agilizado, mas não recebeu resposta até ao fecho da edição.
"Basta que sejam um ou dois por agrupamento para atingir muitas centenas de alunos", assume Manuel Pereira. O presidente da ANDE acredita, no entanto, que a expectativa de as escolas reabrirem após a Páscoa, aliada à "resiliência" dos docentes, não leve muitos a tomar essa opção. Até porque, frisa, a substituição de docentes com os alunos à distância "tem outra limitação fortíssima": a falta de cumplicidade com professores desconhecidos.
Cedo para desconfinar
O Governo não alterou a lista de trabalhadores essenciais que podem deixar os filhos até aos 12 anos nas 700 escolas de acolhimento. Filinto Lima e Manuel Pereira consideram que seria "mais fácil" e com um menor impacto para as escolas alargar aos docentes esta possibilidade. A ministra da Presidência frisou que esta resposta é para os profissionais "sem acesso ao teletrabalho".
Mariana Vieira da Silva defendeu que o elevado número de doentes em cuidados intensivos ainda não permite criar expectativas de desconfinamento. "Na próxima semana é novamente quinzena de decisões", assumiu. Por isso, estado de emergência e reabertura das escolas serão reavaliados, após a reunião no Infarmed. A ministra recordou que, na semana passada, António Costa remeteu qualquer possibilidade de aliviar de medidas para nunca antes de março.
Enfermeiros
Executivo contesta providência
O Governo decretou ontem que a contratação de enfermeiros estrangeiros para combater a covid-19 é de "especial interesse público", pelo que irá contestar em tribunal a providência cautelar da Ordem dos Enfermeiros, que visava travar esses processos. O anúncio foi feito pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva. A governante referiu que a medida é "urgente e necessária", já que cabe ao Executivo responder à pandemia "da melhor forma possível com o maior número de recursos humanos".
À margem
200 funcionários
A ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, revelou que, na "última atualização, há uma semana, cerca de 200 funcionários públicos" [além de militares] estavam a apoiar a realização de questionários epidemiológicos.
Pensões sobem
O Governo aprovou, pelo quinto ano consecutivo, a atualização extraordinária das pensões mais baixas (até 658,21 euros). Um acréscimo de dez euros mensais já pago este mês com retroativos relativos a janeiro, explicou a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho.