
Doentes desvalorizam e não pedem ajuda
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Doentes desvalorizam e não pedem ajuda. Clínicos devem dar relevância pela importância na saúde global.
Há 8000 pessoas diagnosticadas com Esclerose Múltipla em Portugal, mas a maioria dos que sofrem desta doença neurológica crónica que afeta o sistema nervoso central não procura ajuda para tratar disfunções sexuais.
No caso de António (nome fictício), a doença que lhe foi diagnosticada há 30 anos não lhe tolheu a vida de imediato: continuou a trabalhar como engenheiro civil, casou, teve filhos e divorciou-se. Foi há 15 anos que surgiram "limitações de mobilidade" mais sérias, que acabaram por afetar todas as áreas da sua vida.
"Há, de facto, uma degradação da nossa atividade sexual", admite António, que atualmente está numa relação e, ao contrário da maioria, dirigiu-se a um médico à procura de informação.
Dificuldade em falar
As disfunções sexuais de quem sofre de Esclerose Múltipla são muitas vezes "desvalorizadas, revela o urologista Sérgio Santos. "Por um lado, há pouca relevância dada pelos clínicos. Por outra, é capaz de haver algum receio por parte dos doentes", que se debatem com "barreiras sociais e culturais" e têm dificuldade em abordar o tema.
Segundo Sérgio Santos, "foi feito um estudo que demonstra que cerca de 97 ou 98% dos doentes nunca tinham discutido a sua saúde sexual com nenhum profissional de saúde, o que é relevante", pois indica que "desvalorizam ou desdramatizam a sua própria saúde sexual". O mesmo estudo indica, ainda, que "os neurologistas apenas avaliariam a presença de uma disfunção sexual em cerca de 30% dos doentes".
Desamparados
Isto "deixa os doentes muito desamparados, do ponto de vista da saúde sexual que, como sabemos, faz parte da saúde global", alerta o especialista, defendendo que estes doentes "não têm de pôr de lado a sua vida sexual, apesar de terem mais dificuldades".
As queixas mais "típicas", assinala o urologista, são "a diminuição da líbido (desejo), as alterações do orgasmo no sexo feminino e, no homem, a disfunção erétil". Dor, fadiga, rigidez muscular, dificuldades de mobilidade, incontinência urinária, espasmos, secura da mucosa vaginal na mulher, entre outros sintomas, induzem uma "resposta sexual dificultada" e podem levar a que se evite o ato.
Contudo, há ações que podem ajudar, como "programar a atividade sexual para um período do dia em que estão menos cansados, fazer um esvaziamento da bexiga antes do ato sexual, usar lubrificantes e recorrer a fármacos, se necessário".
