O rosto do primeiro-ministro, António Costa, está representado na mais recente capa do "Politico" com um painel de azulejos em degradação, metáfora da dança de cadeiras que marcou o seu Governo e de uma queda inesperada, numa altura em que muitos já o viam com um cargo europeu.
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As recentes polémicas que envolveram António Costa surgem refletidas, esta quinta-feira, na capa da versão europeia do jornal "Politico", onde é possível ver um degradado painel de azulejos com o rosto do primeiro-ministro português. "Como o mundo de António Costa se desmoronou" é a frase escolhida para resumir o artigo, que questiona se o socialista conseguirá "limpar o nome a tempo de se tornar presidente do Conselho Europeu".
No trabalho, publicado online, Costa surge descrito como "um solucionador de problemas" que enfrenta, agora, "o maior desafio de sempre". O caso começou, recorda o jornal, numa manhã de sol de novembro, quando uma "rusga dramática" das autoridades ao Palácio de São Bento, à sede do PS e a casa de vários funcionários interromperam a "carreira espetacular" do chefe de Governo. O resto da história que dá corpo à chamada Operação Influencer é bem conhecido: em poucas horas, o chefe de gabinete de Costa, Vítor Escária, e o conselheiro Lacerca Machado foram detidos. Além disso, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, foi constituído arguido por suspeitas de corrupção, peculato e tráfico de influência em negócios do lítio e hidrogénio verde.
Apesar das dúvidas quanto ao envolvimento do primeiro-ministro no caso, o comunicado do Ministério Público, que o "Politico" descreve como "explosivo", acabou por "virar o mundo do líder socialista de cabeça para baixo" e, à hora do almoço desse mesmo dia, Costa renunciou ao cargo.
"A notícia caiu como uma bomba não só em Lisboa, mas em capitais por toda a Europa, onde muitos viam Costa como o sucessor ideal do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, cujo mandato termina no próximo outono", pode ler-se no artigo.
Fissuras visíveis nos "deslumbrantes azulejos portugueses"
Contudo, apesar dos elogios europeus, o "Politico" escreve que a queda de Costa revela falhas que "há muito não eram segredo em Lisboa", mencionando "táticas" que acabaram por minar o seu próprio Governo, criando "fissuras visíveis" além dos deslumbrantes azulejos portugueses".
O jornal recorda, ainda assim, que o primeiro-ministro em gestão não foi formalmente acusado de qualquer crime, pelo que muitos acreditam que a sua inocência será demonstrada a tempo da conquista de um cargo europeu.
Inocência essa que António Costa continua a defender. Em declarações ao "Politico", o chefe de Governo afirma acreditar que será inocentado, reconhecendo que o processo possa demorar tempo. "Não sei quantos capítulos essa história em particular terá. Mas tenho a certeza de que o último envolverá o reconhecimento de que não fiz nada ilegal, de que não testemunhei nada ilegal e de que não houve nada censurável em relação ao meu envolvimento em qualquer um dos processos", referiu.
O primeiro-ministro disse ainda estar convencido de que os cidadãos vão associar mais a sua carreira a sucessos do que a polémicas. "Um caso como este é obviamente frustrante para alguém que dedicou os últimos 30 anos da sua vida ao serviço público”, reconheceu. "Mas onde há dúvida, tem que haver investigação… E tenho absoluta tranquilidade sobre o que ficará concluído", acrescentou.