Incidência de sífilis, gonorreia e clamídia está a subir, em linha com resto da Europa. Fenómeno está a ser estudado e DGS vai emitir recomendações.
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No ano passado, o número total de casos notificados de gonorreia, sífilis e clamídia, doenças sexualmente transmissíveis (DST), aumentou 33%, face a 2017, para os 2558 registos. Embora tenham maior incidência nas faixas etárias mais jovens, as DST estão também a aumentar entre as pessoas com mais de 65 anos. Em linha, note-se, com o que se passa no resto da Europa. A Direção-Geral da Saúde (DGS) tem já peritos nacionais a estudar este fenómeno.
De acordo com dados facultados ao JN pela DGS, foram as notificações de gonorreia que mais subiram (um aumento de 47% para 966 casos), apesar de, em número, a sífilis registar mais ocorrências (993).
A taxa de incidência de gonorreia - ou seja, o número de notificações por 100 mil habitantes - passou dos 2,82 para os 4,43, em 2017. A estatística do Portal da Transparência do SNS, já referente a 2018, vem mostrar que dos 966 casos notificados 93% são de homens, predominantemente da Área Metropolitana de Lisboa (572 casos) e do Porto (139). A faixa etária dominante é a dos 25-34 (363 casos), seguindo-se a dos 15-24 (328). Acima dos 65 anos, há a registar sete notificações.
Já no que diz respeito à sífilis, a faixa etária acima dos 65 anos regista mais casos do que a dos 55-64 anos, num total de 108, 36 dos quais de pessoas com mais de 75 anos. Face a 2017, regista-se um crescimento de 20% nesta faixa etária. Ao JN, Cândida Fernandes, dermatologista especializada em DST, alerta, no entanto, que nestes 108 casos poderão estar situações de pessoas que contraíram a sífilis em idade adulta. O que já não acontece com a gonorreia, uma doença aguda. "As DST a partir dos 65 existem, não são negligenciáveis, mas serão a parte mais residual", frisa a também membro do Colégio de Especialidade de Dermato-Venereologia da Ordem dos Médicos.
"Na sífilis e na gonorreia, vemos um aumento, fundamentalmente nos homens que têm sexo com homens", explica Cândida Fernandes. Lembrando que as "infeções só baixaram, no início dos anos 80, quando a sida era uma doença mortal. Agora que é uma doença crónica as pessoas protegem-se menos". Por outro lado, "há também casos de sífilis entre homens seropositivos, uma população onde há muitas infeções". Quanto à clamídia, a dermatologista não valoriza os números - quase duplicaram para os 599 casos, em 2018 - porque não era uma doença de declaração obrigatória, estando estabilizada na Europa.
Peritos analisam dados
Ao JN, a DGS fez saber que, "perante o panorama nacional e internacional (...), tem peritos nacionais a estudar e a acompanhar a sua evolução e emitirá as recomendações necessárias". Quanto ao aumento dos casos de sífilis, admite que possa estar relacionado com uma maior oferta de rastreios junto das "populações mais vulneráveis e em maior risco de contrair este tipo de infeções". Frisa, por último, terem sido distribuídos 4,9 milhões de preservativos masculinos e 170 mil femininos, no valor de 272 mil euros.
Outros dados
272 mil euros em distribuição de preservativos
A DGS promoveu a distribuição, em 2018, de 170 292 preservativos femininos e de 4,903 milhões masculinos no valor de 272 mil euros.
Sífilis congénita
Em 2018 foram diagnosticados sete casos de sífilis congénita (transmitida ao bebé pela mãe). Um dado preocupante. Cândida Fernandes diz que "números estão a ser revistos para ver se é mesmo congénita".
Cândida Fernandes