O projeto da psiquiatra e investigadora Manuela Silva venceu o maior prémio na área da Saúde Mental em Portugal. Equipas com técnicos de Saúde e pessoas com experiência da doença vão acompanhar doentes de três hospitais da região de Lisboa durante nove meses.
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Manuela Silva, psiquiatra e investigadora do Hospital de Santa Maria, é a vencedora da 2ª edição do FLAD Science Award Mental Health da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
A investigadora vai receber 300 mil euros para desenvolver um projeto de intervenção psicológica para pessoas com doença mental grave no pós-internamento.
O projeto traduz-se num ensaio clínico que decorrerá ao longo de nove meses nos serviços de psiquiatria dos hospitais de Santa Maria, em Lisboa, Beatriz Ângelo (Loures) e Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. E vai focar-se nas patologias mais graves, designadamente a esquizofrenia, a doença bipolar e a perturbação esquizoafetiva, adiantou, ao JN, Manuela Silva.
O objetivo do projeto "é melhorar a continuidade de cuidados" na fase em que os doentes saem do hospital e regressam a casa e à comunidade. É aqui que, frequentemente, surgem a indisponibilidade, o acesso díficil e o isolamento destas pessoas, que levam a uma situação de "porta giratória" e a novos internamentos, com "consequências potencialmente mais gravosas".
Antigos doentes fazem parte das equipas
A parte mais inovadora do projeto está na organização das equipas. São constituídas por dois elementos, um técnico de saúde, não necessariamente da área da saúde mental, e uma pessoa com experiência da doença, já recuperada ou em situação estável.
As equipas - duas em cada serviço para acompanhar entre 10 a 12 doentes por um período de nove meses - serão contratadas e treinadas pela equipa responsável pelo projeto, com recurso a um manual da Universidade de Columbia, que será traduzido e adaptado à realidade portuguesa.
Além de alargar o número de pessoas que poderão vir a fazer este acompanhamento, num cenário de escassez de profissionais de saúde mental, este formato permite cumprir "dois objetivos essenciais": fomentar a relação de confiança com os doentes, através de pessoas que já passaram por experiências semelhantes, e empoderar as pessoas com doenças de saúde mental.
Visitas a casa e apoio para recomeçar
"Muitas vezes estas pessoas ficam esmagadas pela doença, sem um caminho, sem um papel ativo", nota Manuela Silva. E, por isso, o projeto centra-se também na perspetiva de "recovering", para "ajudar estas pessoas a reencontrarem o seu caminho".
Após a alta hospitalar, os doentes vão ser seguidos de perto por estas equipas que vão fazer visitas domiciliárias frequentes para perceber as áreas em que é necessário intervenção e delinear um Plano Individual de Cuidados. "Vão reunir com as famílias, ajudar por exemplo nas questões dos apoios da Segurança Social, ajudar a fazer um currículo, a preparar uma entrevista para um emprego", detalha a investigadora.
No final dos nove meses, será feita uma avaliação, que será repetida aos 18 meses para perceber a evolução dos efeitos apurados no final da primeira fase. O projeto é um complemento ao acompanhamento e tratamento clínico, dos pacientes.