Dois Anos de Pandemia: último reduto, hospitais anseiam pelo fim dos circuitos
Unidades desdobram-se e já estão a reconverter enfermarias para não-covid.
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As linhas verdes e vermelhas que nos acompanham numa ida à Urgência. Os contentores dedicados a casos covid. A pandemia criou novos hospitais dentro dos hospitais. E serão os hospitais o último reduto. Para os diretores de serviços, estamos longe da endemia, da transição, do novo normal. Que tanto anseiam. Lá chegados, a separação de doentes deixará de fazer sentido. Até lá, à medida que a incidência empurra para baixo os internamentos, mais enfermarias são libertadas para os não-covid.
No Serviço de Urgência (SU) do Hospital de Santa Maria mantêm-se os circuitos: "Urgência covid e não-covid". Sendo certo, revela a sua diretora, Anabela Oliveira, que muitos dos que ficam em enfermarias covid estão lá por outras patologias, como "AVC e doença oncológica".
A pressão, essa, sentem-na nos não-covid. Ainda na semana passada reconverteram "uma enfermaria covid para não-covid, porque há uma elevada sobrecarga de não-covid que têm ficado no SU porque não temos camas de internamento". Uma avaliação diária, seguindo a curva da incidência. Cenário idêntico vive-se no serviço de Medicina Interna do Hospital de S. João. "Estamos a modelar o processo. Na sexta-feira [dia 11] tínhamos aqui 79 com covid e hoje [dia 16] são 31 e ao fim da manhã serão 29", diz o diretor do serviço Jorge Almeida. Recordando que, na segunda semana de fevereiro, teve de montar, "em quatro horas, uma unidade para SARS-CoV-2 para doentes que precisavam de outro tipo de cuidados".
Hoje, os doentes internados naquele que é o maior serviço de Medicina Interna do país continuam isolados, mas, entrando em modo endemia, a covid "será tratada como as outras doenças, não há necessidade de separar uns dos outros", entende.
Recursos não esticam
"Como profissionais de saúde sonhámos com isso, voltar a ter o hospital que tínhamos antes da pandemia", diz a responsável do Santa Maria. Tanto mais que, vinca, "não podemos duplicar enfermarias por muito mais tempo". Admitindo, aquando da endemia, "desmantelar circuitos e criar coortes de enfermarias para doentes covid".
No S. João, Nélson Pereira, diretor do SU, admite também que "quando o risco for muito baixo e a doença maioritariamente ligeira, não será necessária uma estrutura organizacional tão pesada". Identificando duas mudanças, se as autoridades de saúde assim o entenderem. "O fim da separação dos doentes e da testagem massiva". Posição corroborada pelo pares ouvidos neste trabalho, defendendo que a testagem deverá ser utilizada em utentes sintomáticos e para efeitos de diagnóstico. Quanto ao uso de máscara, nomeadamente nos SU, nos tempos próximos, defende a sua manutenção.
Também no Hospital de Braga mantêm-se os "circuitos criados nas áreas assistenciais para doentes covid e não-covid, bem como as outras medidas de proteção individual e coletiva". E caso venha a "ser identificada como uma doença endémica, o hospital seguirá com as orientações e normas estabelecidas pelas" entidades competentes.