Apesar da orientação do Ministério da Educação para as escolas cumprirem os programas, cerca de um quarto dos professores terá optado por apenas fazer revisões durante o 3.º período.
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A maioria (84,1%) vai basear a avaliação nos trabalhos de casa enviados pelos alunos. Apenas 33,7% terão feito testes, revelou um inquérito promovido pelo centro da Nova SBE (Nova SBE Economics of Education Knowledge Center), da Universidade Nova de Lisboa.
Os diretores assumem que o ensino à distância foi cumprido "com muitos constrangimentos" e desigualdades. O ministro da Educação também admitiu que foi "o possível" e não o ideal (ler texto ao lado).
Os critérios de avaliação tiveram de ser redefinidos por causa do ensino à distância e as escolas diversificaram os instrumentos. De acordo com os resultados preliminares do segundo inquérito feito a 2647 professores de todo o país, do Pré-Escolar ao Secundário, no mês de maio, a maioria dos docentes vai dar mais peso na avaliação aos trabalhos de casa, à assiduidade (67,7%) ou à participação nas aulas (64,8%). Os dados apontam que em média 73% dos alunos enviaram sempre os trabalhos. Houve quem fizesse "quizz" (fichas online de escolha múltipla), pesquisas ou vídeos. Só cerca de um terço fez testes.
A maioria (68,1%) dos professores deu matéria nova mas 26,3% optaram por rever os conteúdos lecionados antes do fecho das escolas a 16 de março.
"Tivemos que ser todos pragmáticos. Foi impossível dar passos maiores que a perna", sublinha Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).
Já Mário Nogueira, líder da Fenprof, frisa que o maior reporte dos professores do Secundário que voltaram a dar aulas presenciais é que "tiveram de repetir as matérias dadas à distância".
"Esse é o maior desafio" e "não vai ser possível recuperar tudo", defende Ana Balcão Reis, diretora científica do centro da Nova. Para a docente, o ensino à distância agravou as desigualdades e o 3.º período decorreu com enormes disparidades, inclusive entre turmas do mesmo agrupamento, sendo os contextos familiares determinantes.
Uma das preocupações, assume, é que professores e alunos trabalharam muito mais, mas "houve quem tenha trabalhado e aprendido e outros em que isso aconteceu muito pouco". No próximo ano, defende, terá de haver mais apoios individualizados.
Perder alunos a cada dia
Um questionário da Fenprof feito a 3548 professores revelou que mais de metade (54,8%) não tinha conseguido contactar todos os alunos a meio do 3.º período. "A tendência manteve-se até ao final", assegura Mário Nogueira.
"Não se pode apontar o que falhou. Sim, há alunos sem computador ou Internet, mas é muito difícil chegar a quem já era muito difícil manter nas escolas. O ensino nunca pode ser à distância", insiste Nogueira.
"À medida que o tempo foi passando, fomos perdendo mais alunos. A exaustão tornou cada dia mais difícil", assume Manuel Pereira. Tanto o presidente da ANDE como o presidente da Associação de Diretores (ANDAEP), Filinto Lima, admitem que houve queixas à CPCJ por alunos que as escolas nunca conseguiram contactar. "É uma percentagem residual e estão todos identificados", asseguram.
Filinto Lima reivindica créditos horários para as escolas contratarem mais professores, psicólogos e técnicos especializados para reforçarem apoios como as tutorias.
Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação
"Sabemos que o ensino à distância, tendo sido o possível, não é o desejável. Estamos a trabalhar para que o ensino presencial possa ser possível"
Filinto Lima, Presidente ANDAEP
"Há alunos que foram verdadeiros heróis face às condições que têm em casa. A escola deixou de cumprir a sua missão de elevador social"