Aurora Sousa chegou a Ílhavo ainda muito jovem, mas, hoje, aos 78 anos, não esconde o amor à cidade, ainda que recorde com saudade os tempos da juventude em que a vida ali "era uma alegria". Ana Paula, de 24 anos, garante que a animação continua e dá como exemplo o Festival do Bacalhau e o Festival Rádio Faneca.
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Nasceu em Castelo de Paiva, mas muito jovem chegou a Ílhavo, para viver com uma tia. Agora, aos 78 anos, Aurora Sousa continua a morar no centro da cidade que a adotou, onde casou e teve filhos. E tem-lhe um amor desmedido, presente até no típico linguajar ilhavense que lhe sai com as palavras. Mesmo que ache que "já nada é como dantes".
Com menos 55 anos, Ana Cardoso da Paula não terá termo de comparação com os tempos a que Aurora faz alusão, mas considera que a animação continua a ser o ponto forte da cidade. E dá como exemplo os eventos - como o Festival do Bacalhau, o Festival Rádio Faneca, entre outros - para sustentar a sua visão.
"Ílhavo era linda, linda. Nem era cidade, ainda, mas sim vila. Tinha tudo o que precisávamos. Era um sonho", recorda Aurora, reformada, após uma vida inteira "a servir em várias casas".
Tínhamos o cinema e um mercado maravilhoso com muitas lojinhas em volta, que depois foi posto abaixo
"Tínhamos o cinema e um mercado maravilhoso com muitas lojinhas em volta, que depois foi posto a baixo. Eu nem gostava de sair daqui, porque tinha tudo. Agora, não há nada, principalmente para os idosos", frisa.
Ana Cardoso da Paula é natural da Gafanha do Carmo, uma das quatro freguesias do concelho. É lá que ainda vive, aos 24 anos, mas é no centro de Ílhavo que passa os dias, uma vez que está a estagiar na Casa da Cultura, na administração dos espaços do 23 Milhas, o projeto cultural do Município.
E gosta tanto da terra que a viu crescer, que diz que mesmo que pudesse "não mudava nada, nem na cidade nem no município". "Tem cultura, desporto, muitos eventos e tecido associativo. É bom para trabalhar e viver", garante a jovem, que afirma sentir-se "em casa", ao contrário do que experienciou quando trabalhou em Aveiro.
Andávamos às voltas por aqui e havia a Rádio Faneca, onde os rapazes dedicavam discos às raparigas. Era uma alegria!
O JN encontrou Aurora Sousa no Jardim Henriqueta Maia, a colocar flores junto à estátua de Carlos Paião, a pedido da mãe do malogrado cantor, de quem é amiga. No mesmo jardim onde, na juventude, passava horas a conviver. "Andávamos às voltas por aqui e havia a Rádio Faneca, onde os rapazes dedicavam discos às raparigas. Era uma alegria", recorda.
Apreciadora de "arraiais e bailaricos", Ana Paula, a estudante do mestrado em Contabilidade, já licenciada em Gestão, tem no Festival do Bacalhau - que decorre todos os anos, em agosto, na Gafanha da Nazaré - as melhores memórias do que a sua terra já lhe ofereceu.
Da Gafanha do Carmo até à Zona Industrial ou à Vista Alegre não há ciclovia, para vir para o centro da cidade
A isto, a jovem junta também os passeios de bicicleta, num concelho onde a mobilidade suave tem muitos adeptos. Mas, talvez por isso, a rede de ciclovias incompleta seja o maior reparo. "Da Gafanha do Carmo até à Zona Industrial ou à Vista Alegre não há ciclovia, para vir para o centro da cidade", observa.
E é também sobre o tema da mobilidade que Aurora Sousa deixa o seu lamento. A "falta de rede de transportes dentro do município" é o ponto mais negativo: "Veio cá o António Calvário atuar à Gafanha e queriam que os idosos fossem. Como?", pergunta, em jeito de desabafo.