A secretária-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, confirma que a situação de crise nos restaurantes continua no Natal e que o importante é que os apoios anunciados pelo Governo cheguem aos empresários.
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Na medida em que o mês de dezembro é, tradicionalmente, graças à época natalícia, a altura em que muitos dos negócios conseguem recuperar algum do prejuízo que possam ter vindo a sofrer durante o ano, qual o nível de recuperação, durante este mês, que pode sentir o setor da restauração?
De facto, o mês de dezembro, a par da época estival, são períodos em que as pessoas, tradicionalmente, mais viajam, fazem mais reservas nos empreendimentos turísticos e no alojamento local, e mais afluem e consomem nos estabelecimentos de restauração. Porém, também a par do que aconteceu no Verão, não serão estes poucos dias que vão salvar as empresas, dada a situação difícil em que se encontram. A par de todas as restrições que as afetam, a procura não permite encarar a receita que se possa fazer nestes dias como tendo um impacto que se possa considerar significativo. Por outro lado, as medidas de apoio a estas empresas, em especial as que foram recentemente anunciadas pelo Governo e que vão ao encontro do que a AHRESP vinha solicitando, ainda não chegaram às empresas e é preciso que isso aconteça, não só rapidamente, como através de um processo de simples acesso. Não podemos esquecer que a esmagadora maioria do nosso tecido empresarial é constituído por micro e pequenas empresas, pelo que a complexidade no acesso, como tem acontecido com algumas medidas, acaba por inviabilizar o apoio. Seja como for, pior seria caso se optasse por maiores restrições ao funcionamento nesta altura. Por isso há que saudar esta situação, digamos, de exceção, para a época natalícia e de fim de ano.
Perante a possibilidade de manter os estabelecimentos abertos na noite de Natal (de 24 para 25 de dezembro), a AHRESP considera esta solução viável? Quantos restaurantes irão trabalhar nesta noite?
O cenário é tudo menos propício a que haja uma procura acentuada nesta fase e muitos restaurantes, mesmo a funcionar, não irão registar muitas reservas. Apesar de, nos últimos anos, assistirmos a um crescente interesse das pessoas em realizarem as suas ceias de Natal em restaurantes e em hotéis, esta não deixa de ser uma altura em que é mais frequente ficarem em casa com a família. Daí que, calculamos que esta medida em concreto não contribua significativamente para as receitas das empresas, mas caberá obviamente a cada estabelecimento aferir se deve ou não abrir nesta época, e esse é um dado positivo, ou seja, deixar essa decisão nas mãos dos próprios empresários.
Numa ronda pelos restaurantes, conseguimos perceber que não existem quaisquer reservas para os habituais jantares de Natal entre grupos de amigos e empresas. Esta é uma situação transversal a todo o país?
Pelas razões que já referi, não se vai registar grande procura para jantares de Natal, situação que, prevemos, não seja muito diferente ao longo do nosso país, o que não deixa de ser um sinal que nos deve preocupar. Tendencialmente é natural que haja locais que venham a ter alguma procura por força da sua classificação, tendo em conta o risco mais ou menos elevado que registem mas, mesmo nestes, mesmo nos concelhos de risco moderado, prevemos que a procura de jantares de Natal de amigos e empresas, que ocorrem muito nesta altura, não irá corresponder às expectativas, e isso é relevante para determinado tipo de restaurantes cuja estratégia passa normalmente por jantares de grupo. Não podemos esquecer que há ainda muitas restrições ao funcionamento dos estabelecimentos, que passam não só pelos horários de funcionamento, mas também pela limitação de seis pessoas por grupo, o que acaba por inviabilizar este tipo de procura.
É à hora de almoço, ao servir refeições os trabalhadores locais, que muitos dos negócios estão a conseguir manter-se abertos. A AHRESP já fez ou pensa fazer algum pedido ao Governo para que a impossibilidade de servir almoços ao fim de semana seja levantada?
Para muitos estabelecimentos, o serviço de almoços tem um peso grande na sua faturação, e ainda mais quando se trata de almoços aos fins de semana. A questão dos almoços tem sido muito falada porque há vários fins de semana que os restaurantes, por força das limitações à circulação e imposição de dever domiciliário, veem inviabilizado este serviço. Atualmente esta questão ainda subsiste para os estabelecimentos que se situem em concelhos de risco muito elevado e extremo, que são concelhos com grande densidade populacional, pelo que facilmente se percebe o impacto negativo que tem nas tesourarias das empresas. A AHRESP não dispõe de informação suficiente e conhecimento técnico para contestar as medidas de carácter sanitário que o Governo vai implementado, mas obviamente que todas as restrições têm um impacto negativo e por isso mesmo é tão urgente que as medidas recentemente anunciadas deixem de ser meros anúncios e se concretizem efetivamente, para que as empresas possam realmente ser apoiadas.