A produção de energia elétrica em Portugal continental nos primeiros 50 dias do ano diminuiu em 26,2% em comparação com igual período de 2021, obrigando a importar mais 141,7% de eletricidade, sobretudo devido à queda da geração hidroelétrica, que registou um decréscimo de 73,2%.
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São os piores 50 dias no período 2013-2022, na análise do JN aos balanços mensais e diários (até ao dia 19) da Rede Elétrica Nacional (REN). Até ao passado dia 19, o sistema eletroprodutor gerou um total de 6217 gigawatts-hora (GWh) de eletricidade, menos 2209 GWh do que os 8426 produzidos no período homólogo do ano passado, sendo o pior ano do decénio.
Devido à generalizada situação de seca, os aproveitamentos hidroelétricos são os que mais se ressentiram, tendo produzido apenas 876 GWh em 50 dias, ou seja, menos 2390 GWh do que no mesmo período do ano passado e abaixo dos 900 GWh gerados em 2018, quando se registou o pior desempenho até agora neste decénio.
A queda da produção de origem hídrica e a diminuição também da energia eólica (menos 23,3%) explicam muito do decréscimo da contribuição do conjunto das fontes renováveis, que sofrem um rombo de 44,3%.
Foi o pior ano para as renováveis nos dez anos analisados, apesar da forte subida, em 128,7%, da produção da energia solar, que passou de 115 GWh nos primeiros 50 dias de 2021 para 263 até sábado, sendo acompanhada por um crescimento em 5% da origem nas centrais de biomassa.
O desempenho das energias renováveis neste período alterou a sua posição do sistema eletroprodutor português, tendo contribuído para este com 2396 GWh, ou seja, com 56,8% para a produção de eletricidade, quando, no período homólogo de 2021, a sua participação fora de 75,3%.
Em consequência, as fontes não renováveis responderam por 38,5% da produção (2396 GWh), contra os 21,6% do período homólogo do ano passado. É de destacar a subida muito significativa, de 51,8%, da participação do gás natural, que respondeu por 2384 GWh, ou seja, com mais 814 GWh.
fim do carvão sem impacto
A subida da produção com recurso ao gás natural mostra, por outro lado, que a diferença negativa da produção com base no carvão foi completamente absorvida: desde 2020 que esta fonte poluente já representava uma contribuição muito reduzida (apenas 124 GWh nesse ano e 206 no ano passado).
Outro efeito foi o aumento das importações de eletricidade, que, nos primeiros 50 dias deste ano atingiram o recorde no decénio de 1926 GWh, mais 1129 GWh do que no ano passado.
Nunca, em dez anos, o saldo importador positivo - que, no dia 19 era de 1662 GWh - fora tão elevado. Só em 2018 e em 2019, a diferença entre as importações e as exportações de eletricidade tinha sido favorável a Espanha - em 18 e 670 GWh, respetivamente.