Doenças cerebrovasculares continuam a ser a principal causa de morte, mas óbitos caíram 4,6% naquele ano. Mortes por tumor do pulmão subiram 1,8%
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Num ano em que a mortalidade registou um decréscimo de 4,8%, as causas de morte de 2023 agora divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dão nota de movimentos contrários, com um aumento dos óbitos por tumores malignos e pneumonia e um decréscimo por doenças do aparelho circulatório. Com destaque para os óbitos por Acidente Vascular Cerebral (AVC), que continuam a ser a principal causa de morte em Portugal, respondendo por 7,8% do total, a caírem 4,6%. Naquele ano, sete em cada dez óbitos foram de residentes com mais de 75 anos.
Por grandes grupos, as doenças do aparelho circulatório viram o seu peso no total de óbitos baixar de 26,5% para 25,4%, enquanto os tumores malignos cresceram de 22,4% para 23,8%, seguindo-se as doenças do aparelho respiratório, de 9,7% para 11,1%. Do total de 118.344 óbitos de residentes em Portugal, 72% concentraram-se no grupo etário acima dos 75 anos, com os maiores de 85 a responderem por 45%. Numa distribuição equitativa por género.
Analisando as doenças do aparelho circulatório, destaque para a quebra nas mortes por AVC, pelo terceiro ano consecutivo abaixo das dez mil (9.177). Num decréscimo que se fez sentir em todos os grupos etários exceto nos 35-44 (+4) e nos 45-54 (+17) e que continua a fustigar mais as mulheres (79,7 óbitos masculinos por cada 100 femininos). Também na doença isquémica do coração (-6%, para os 6.414) se registou um incremento na faixa 35-44 (+10 óbitos), pesando mais nos homens. Já as mortes por enfarte agudo do miocárdio registaram um decréscimo de 6,2%, para os 3.664, concentrando-se na população acima dos 75 anos.
Tumores matam mais
Em sentido contrário, contabilizaram-se 28.166 mortes por tumores malignos, com o cancro do pulmão a responder por 16% daquele universo e por 3,8% do total de óbitos em Portugal. Num crescimento de 1,8% e com a região Norte a responder por 36% dos óbitos por tumores da traqueia, brônquios e pulmão, contanto mais 88 mortes. Apenas a Grande Lisboa, Centro e Algarve registaram um ligeiro decréscimo. De referir, ainda, o aumento de 1,2% das mortes por cancro do cólon, reto e ânus, num total de 3.639. Constatando-se um acréscimo nas faixas 55-64 (+40 óbitos) e 65-74 (+56).
Escusando-se a avançar explicações para este aumento, por não ter ainda analisado os dados do INE, o diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas vincou, ao JN, a importância de o país ter dados mais finos e aprofundados para “definir políticas de saúde, que no cancro contam”. Para José Dinis, “o Registo Oncológico Nacional (RON) precisa de ser melhorado” para produzir informação “mais rápida e mais fina”. Em 2021, em entrevista ao DN, o oncologista explicava que teríamos de esperar por 2025 e 2026 para perceber os reais impactos da pandemia na redução de diagnósticos e de cirurgias na patologia oncológica.
O terceiro grande grupo foi o que mais se agravou, com as mortes por doenças do aparelho respiratório a subirem 8,2%, com o acréscimo dos óbitos por pneumonia a responderem por mais de metade daquele aumento. Em 2023, as mortes por pneumonia voltaram a fechar acima das cinco mil, numa subida de 12,3%. Acima dos 85 anos verificou-se um aumento de 15%, com aquela população a concentrar 62% dos óbitos.