A saúde mental e a cardiovascular andam mais de mãos dadas do que o que possa imaginar. Distinguir uma crise de ansiedade ou de pânico de um enfarte é difícil para qualquer uma, mas médico explica sintomas e alerta que estes dois mundos - o do coração e o da cabeça - estão intimamente ligados
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O stress persistente pode provocar, progressivamente, insónia, irritabilidade, tensão muscular, alterações metabólicas, falta de ar, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Sequelas a que o coração reage e pode levar a situações limite. "A nível cardíaco, o stress emocional ou físico intenso - por exemplo, na doença orgânica aguda - pode desencadear uma reação intensa do tal sistema nervoso que nos prepara para a fuga, inundando o coração de adrenalina. Esta descarga pode lesar as células cardíacas e provocar uma disfunção aguda do músculo cardíaco, designada de Síndrome de Takotsubo ou Síndrome do, Coração Partido", informa o cardiologista Cláudio Espada Guerreiro. Embora "grave", é "na maioria dos casos reversível", diz o especialista, sublinhando que esta "apresentação clínica imita muitas vezes o enfarte agudo do miocárdio, vulgo "ataque cardíaco", com "dor no peito, falta de ar, palpitações, tonturas ou desmaio".
Circunstâncias distintas tem o enfarte. O que e clinicamente definido como "uma obstrução numa artéria do coração, interrompendo o fluxo de sangue com oxigénio e nutrientes ao músculo cardíaco", carrega também outros reflexos, "Se a pessoa que se apresenta com desconforto no peito, particularmente quando em aperto ou ardume, e que irradia para os braços e pescoço, a que se associa a falta de ar, suores, náuseas e vómitos, deve contactar o número de emergência médica, 112", recomenda Cláudio Espada Guerreiro. Afinal, se esta situação não for "reconhecida precocemente, acabará por ocorrer morte irreversível de parte do músculo cardíaco, podendo gerar arritmias cardíacas potencialmente fatais ou evolução com insuficiência cardíaca por falência do músculo cardíaco, condicionando o prognóstico clínico do doente". Por isso, importa ser levado para "o hospital numa viatura médica de emergência pré-hospitalar, assegurando uma resposta atempada e devidamente vigiada".
Ainda que estas marcas de saúde mental e cardiovascular tenham sinais e mereçam acompanhamentos distintos, a verdade é que elas caminham lado a lado. Como explica o cardiologista de intervenção da Unidade Local de Saúde de Vila Nova de Gaia, "o que sabemos é que o stress e a ansiedade crónica e intensa associa-se a maior risco de ocorrência de eventos cardiovasculares". Paralelamente, acrescenta, "no doente com doença cardíaca estabelecida, a ansiedade e depressão associa-se a maior risco de novos eventos cardíacos, agravando o prognóstico clínico". Contas feitas, importa "vigiar a saúde cardiovascular, sem descurar nunca a saúde mental, ambas caminham de braço dado", concluiu Cláudio Espada Guerreiro.