Em 2017 e 2018 morreram 26 mulheres por problemas causados pela maternidade. A maioria dos óbitos ocorreu em mulheres jovens portadoras de doenças graves, algumas nem sabiam que estavam grávidas. As restantes, em gestações após os 35 anos de idade.
Corpo do artigo
No ano passado foram registadas 15 mortes de mulheres por problemas durante a gravidez, parto ou até 42 dias após o nascimento de um filho, revelou a diretora-geral da Saúde Graça Freitas, esta quinta-feira. Em 2017 tinham sido 11.
"Existe uma certa estabilidade nos números, que são pequenos", frisou a responsável, adiantando que em 2019, "os números serão da mesma ordem", preferindo, no entanto, não avançar nenhum dado deste ano por serem provisórios.
Em maio último, notícias davam conta de que a mortalidade materna em Portugal estava a aumentar. Nessa altura, as autoridades de saúde criaram um grupo de trabalho para avaliar as circunstâncias e nos meses de junho e julho foram avaliados os processos clínicos "com sigilo e respeito" para procurar "padrões para esta mortalidade" relativos a estes dois anos.
Foram encontrados dois. "O primeiro já era nosso conhecido. São mulheres que engravidam depois dos 35 anos", altura em que o risco é maior. "Bastantes destes óbitos", que representaram 40% das mortes, "ocorrem nos dias a seguir ao parto".
O outro padrão, prosseguiu Graça Freitas, constitui uma "novidade epidemiológica". "Tem a ver com mulheres relativamente jovens, mas portadoras de doenças graves".
De acordo com a médica, eram "mulheres que em anos mais passados poderiam nem sequer ter chegado à idade fértil. Algumas destas pessoas nem sabiam que estavam grávidas". A morte ocorreu quando deram entrada no hospital com uma complicação de uma doença de base que já tinham.
Os óbitos tiveram na origem problemas relacionados com fenómenos de tromboembolismos, doenças hemorrágicas, de hipertensão arterial. E nas que já tinham patologia de base encontrou-se doenças oncológicas e doença pulmonar obstrutiva grave.
"A mortalidade materna é um fenómeno habitualmente subnotificado, porque ao contrário do que pensamos estas mortes ocorrem em qualquer altura da gravidez, não ocorrem só no parto". Mas o recurso a mais do que uma fonte de informação permite que os dados sejam cada vez mais próximos da realidade. Essa metodologia permitiu ainda determinar que em 2016 morreram 12 mulheres nas mesmas circunstâncias.
Melhor acompanhamento
A necessidade de estudar estas mortes, sublinhou Graça Freitas, deve-se à necessidade de obter boa informação para melhorar o acompanhamento. "Os cuidados de saúde têm de acompanhar em complexidade esta gravidade".
O primeiro passo será a melhoria da literacia das mulheres, bem como o seu encaminhamento para consultas pré-concepcionais e de planeamento familiar, bem como campanhas junto dos médicos que habitualmente as acompanham. "Estas mulheres têm que ser informadas do risco que correm se engravidarem, mas a última opção é da mulher", disse.
Se mesmo assim decidirem engravidar, devem ser "encaminhadas para consultas de alto risco em meio hospitalar, por equipas multidisciplinares", o parto "terá de ocorrer de acordo com o seu nível de gravidade" e as mães "têm de continuar de ser seguidas após o parto".