Duas dezenas de manifestantes da iniciativa "Casa para viver, planeta para habitar" protestaram contra a “insuficiência” do programa Mais Habitação, esta quinta-feira, junto à Assembleia da República (AR), após alguns deles terem interrompido a sessão plenária. E atacam "lucros enormes" dos bancos.
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Eram perto de duas dezenas de pessoas, algumas sentadas nos bancos do jardim, outras à sombra das árvores, principalmente as mais idosas, e outras a conversar em pé, formando uma “rodinha”.
Diamantino Sintra, de 71 anos, um dos manifestantes, dizia que é mesmo preciso protestar. "Há muitas pessoas a passar fome porque não podem pagar estas rendas!”. “O povo está 100% insatisfeito”, acrescentou.
Não foi um protesto barulhento e não houve cartazes nem panfletos. No entanto, os manifestantes demonstraram abertura para comentar as medidas em debate no Parlamento. Maria Serra Valente, uma das promotoras do protesto, declarou ao JN: “queremos fazer-nos ouvir e gritar ‘casa para viver!’, o lema da manifestação”.
“O pacote Mais Habitação é mais do mesmo, porque, por exemplo, em termos de benefícios fiscais, não retira nenhuns, até traz mais. Os apoios às rendas são muito limitados (…) e mantêm-se os preços especulativos das rendas e das casas e os lucros enormes dos bancos”, reforçou.
Interrogada sobre que medidas alternativas poderiam existir às apresentadas pelo PS, a manifestante comentou que “é necessário, por exemplo, um controlo efetivo de rendas, adequado às regiões do país e aos salários portugueses, acabar com os benefícios fiscais que ajudam a aumentar o preço das rendas e das casas, acabar, de verdade, com os vistos gold, limitar o Alojamento Local e retirar licenças em zonas de pressão: estamos a expulsar as pessoas das cidades”.
“Não bastam esmolas”
“A maior parte delas [as propostas do PS] não alteram a realidade da situação da habitação. Temos 1 a 2% de construção de habitação pública, um encarecimento dos juros da habitação e uma situação de especulação muito grande em relação às rendas”, afirmou o jornalista e membro do movimento Nuno Ramos de Almeida ao JN.
“Só para dar um exemplo: entre 2011 e 2021, os dois censos da habitação nova, quase 12% estão desocupados e são devolutos, portanto são usados para especulação financeira. Hoje, a habitação concorre, não no mercado interno, mas no mercado externo, de quem tem dinheiro, e, naturalmente, os construtores, a poderem construir casas para 2 milhões de euros, não as vão construir para 200 mil. Nada disto está no pacote”, apontou.
O jornalista acrescentou ainda que “não bastam esmolas, temos que ter salários que sejam compatíveis com o preço das coisas (…) e depois tem de haver uma intervenção nos preços das rendas, que não podem ser superiores aos salários das pessoas”. “Tem de haver construção a preço controlado (...) para os nossos ordenados. O mercado não resolve esta situação”, rematou.