Sociedade Portuguesa para o Estudos das Aves alerta para necessidade de proteger habitats.
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A garça-boieira ou carraceiro, uma espécie que nidifica em zonas húmidas, sofreu uma redução de 77% em menos de dez anos em Portugal, existindo atualmente cerca de cinco mil casais. É uma das várias espécies em declínio que está a ser acompanhada pela Sociedade Portuguesa para o Estudos das Aves (SPEA) e que figura na obra "O estado das aves em Portugal", ontem apresentado.
A publicação, que dá a conhecer os resultados atualizados de 11 programas de monitorização das populações nidificantes, migradoras e invernantes de aves, dez censos dirigidos e dois projetos para registo de observação de aves em Portugal, mostra uma "tendência de declínio" de muitas espécies, alerta o biólogo da SPEA Hany Alonso.
Além do carraceiro, também o borrelho-de-coleira-interrompida, ave que vive na orla costeira e grandes estuários, está a diminuir. A sua população nidificante "reduziu 46% em duas décadas", especifica Hany Alonso. Das espécies com estatuto de ameaça, o biólogo destaca a pardela-balear, que mostra igualmente um "declínio", embora não quantificado.
Para a redução destas espécies contribuem as alterações climáticas, as monoculturas e agricultura intensiva, uso de pesticidas, corte de vegetação, perturbação de locais de nidificação e capturas acidentais em artes de pesca, entre outros fatores.
Gaivota-de-Audouin
Apesar do panorama pouco animador, há algumas aves que estão a aumentar no nosso país. A gaivota-de-audouin, uma espécie globalmente ameaçada, começou a nidificar em Portugal no início deste século e não tem parado de crescer. Nas ilhas barreiras, na ria Formosa, situa-se agora a "maior colónia desta espécie no Mundo", com 5393 casais a nidificar contabilizados este ano, aponta Hany Alonso.
Para o biólogo da SPEA, o trabalho de monitorização é importante e deve ser apoiado. "Não podemos conservar e ter ações concretas se não soubermos o que se está a passar", explica, adiantando que "há falta de informação para muitas" das cerca de 300 espécies que habitam ou passam regularmente em Portugal. O que sucede em termos de biodiversidade é um "reflexo do que se passa no resto dos ecossistemas" e ajuda a tomar medidas concretas para a conservação, acrescenta.