Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) provaram que quanto maior a impulsividade, maior a dependência de estupefacientes em reclusos a cumprir penas de prisão por crimes violentos.
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O estudo, que faz parte de um projeto mais amplo com o objetivo de identificar fatores preditivos de agressividade em presos, incidiu sobre 46 homens detidos numa prisão de média/alta segurança do norte do país, pela prática de crimes como homicídio, tentativa de homicídio ou agressões físicas. A maioria (59%) apresentava abuso de substâncias.
Através de análises ao sangue, determinou-se a atividade e genótipos COMT (catecol-O-metiltransferase), que permitem avaliar o impacto no metabolismo da dopamina, um neurotransmissor diretamente ligado ao prazer e recompensa. Concluiu-se que "nos indivíduos com problemas de abuso de substâncias, a atividade da enzima COMT está relacionada com a capacidade de autocontrolo e de planeamento".
"A novidade [deste trabalho] é ter permitido, nesta população, individualizar a impulsividade como um dos fatores de agravamento desta relação", explica a investigadora Margarida Figueiredo-Braga. "Dos indivíduos estudados, os que tinham um carácter mais impulsivo - medido através de escalas - foram aqueles em que a dependência de droga era mais grave", especifica.
Estes dados vão ao encontro de outros estudos, que correlacionam esta enzima com os níveis de impulsividade e que associam o uso de inibidores da COMT à redução de comportamentos aditivos e impulsivos.
Controlar dopamina
Abrem-se, assim, "novas perspetivas" para a intervenção farmacológica em pessoas com dependência de drogas. "Já temos fármacos de várias classes, nomeadamente os antipsicóticos, que atuam sobre a dopamina. Mas também poderemos desenvolver novos fármacos", tornando o "neurotransmissor dopamina e, em específico, a enzima COMP, um alvo para tratamento deste tipo de disfunções comportamentais", sublinha Margarida Figueiredo-Braga.
A descoberta foi publicada na revista científica BMC Psychiatry. Para além de Margarida Figueiredo-Braga, na investigação participaram Jacinto Azevedo, Cláudia Carvalho, Maria Paula Serrão, Rui Coelho e Maria Augusta Vieira-Coelho.