Programa chegou a 18 mil pessoas desde 2019 e cresce todos os anos. Ministra explica que há mais emprego e divulgação.
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Ao fim de 15 anos a viver na Áustria, Alemanha e Emirados Árabes Unidos, Susana Filipe regressou a Portugal com a família. Dirige, hoje, o Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade (Change) da Universidade de Évora e é uma das quase 18 mil pessoas que voltaram para Portugal, nos últimos quatro anos, com apoio do programa Regressar. Mais de metade saíram de Portugal entre 2011 e 2015 e muitos vêm para trabalhar à distância para empresas de todo o Mundo.
Foi num programa da RTP2 que Susana Filipe, de 46 anos, de Évora, ouviu pela primeira vez falar do Regressar. Corria o ano de 2021 e a investigadora já trabalhava no estrangeiro há 15 anos. Na Áustria, onde estava com o marido e com os dois filhos menores, tomaram a decisão de regressar no final desse ano.
Primeiro para uma filial portuguesa da empresa para a qual trabalhava lá e, depois, para a direção executiva do Change. "Eu sempre tive vontade de voltar para Portugal, mas as condições e os salários são muito diferentes daqueles a que a gente se habituou quando vivia no estrangeiro", admite, ao JN, recordando que ponderou "vários fatores". Desde logo a proximidade à restante família - que foi um fator "decisivo" -, e o facto de ter encontrado um desafio profissional "interessante".
Já tinha um cargo de direção na Áustria e aceitou regressar com um salário menor: "Eu continuo a receber muito menos do que recebia antes, mas o Regressar ajuda a tornar o processo mais aliciante, porque eu percebo que vou ter este benefício durante um período de cinco anos".
Segundo os dados da Segurança Social, o Regressar já apoiou 17 751 pessoas entre 2019, o primeiro ano completo de vigência do programa, e abril de 2023. Todos os anos há mais beneficiários do que no ano anterior. Isto acontece porque "tem havido um investimento grande" na divulgação junto de comunidades de emigrantes portugueses, revela Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
"A falta de emprego é uma das grandes causas da emigração e muitas dessas pessoas que estão a regressar saíram entre 2011 e 2015"
laboram fora cá dentro
Mais de metade (57%) dos apoiados pelo Regressar deixaram Portugal entre 2011 e 2015, um período "com uma taxa de desemprego muito alta", recorda a governante. Agora, regressam porque "veem oportunidades de emprego que não tinham na altura". Quando a troika saiu de Portugal, em 2014, depois de ter entrado em 2011, a taxa de desemprego era de 15%. Agora está em 7%.
A ministra acrescenta que "muitos são jovens qualificados" que regressam "na altura em que decidem ter filhos" e nem sempre vão para as grandes cidades: "Querem regressar para um tipo de vida que encontram noutros sítios que não os grandes centros urbanos".
Quase 80% dos que regressam têm menos de 44 anos. As ciências físicas, a Matemática e as engenharias são as principais áreas profissionais. Ana Mendes Godinho constata que "está a acontecer muito" o fenómeno de trabalho à distância a partir de cá: "Há uma nova oportunidade para qualquer trabalhador que trabalhe remotamente para qualquer sítio do Mundo".
O Regressar destina-se a emigrantes e seus familiares que tenham saído de Portugal há pelo menos três anos e que iniciem, até 2026, atividade laboral no nosso país. O apoio pode chegar a 3363 euros por contrato. As viagens de regresso e os custos do transporte de bens são pagos com um limite máximo total de 1441 euros, cada. Há majorações do apoio por cada familiar e se a atividade profissional for desenvolvida por conta própria ou no Interior.
Números
64% têm habilitações de Ensino Superior
Entre os beneficiários, há 38% que possuem habilitações académicas de nível superior. Vêm trabalhar por conta de outrem (78%), a maioria sem termo, ou por conta própria (14%).
38% dos beneficiários em quatro distritos
Os distritos de Lisboa, Porto, Braga e Aveiro são os destinos principais dos ex-emigrantes do Regressar, com 64% do total de beneficiários. Vêm da Suíça (21%), França (19%) e Reino Unido (17%).