Jerónimo de Sousa cumpriu esta quarta-feira, na Baixa da Banheira, a primeira grande arruada da CDU. O secretário-geral do PCP reconhece que tem sido uma campanha eleitoral mais tranquila, mas justifica: "É uma campanha em crescendo". As arruadas chegam na quinta-feira ao Barreiro e ao Chiado, em Lisboa, e na sexta-feira a Santa Catarina, no Porto.
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Uma hora antes da primeira grande arruada da CDU, não se falava de outra coisa no café Meia Lua. "Hoje vai ser uma festa aqui", ouve-se. "Lembraram-se que a Baixa da Banheira estava no mapa". A crítica não se adequa. A passagem por aquela localidade é uma tradição das campanhas comunistas e voltou a estar no mapa da CDU esta quarta-feira.
O tempo vai passando e o início da Rua 1.º de Maio vai ficando composto por militantes, simpatizantes muitos curiosos. "Ele já se está a atrasar muito", atira Ana Isabel, impaciente. De braços cruzados, a alentejana espera pela chegada de Jerónimo de Sousa. Já o viu dezenas de vezes na Festa do Avante. "Não perco uma! Este ano até fui operada à anca e fui para lá perneta". Ao JN, a mulher de Panóias confessa: "Eu até engraço com o António Costa, mas não troco o meu partido. Isto é como os clubes, o mê Benfica é o mê Benfica".
"Ele vem aí, ele vem aí!". As palmas e os gritos de apoio intensificam-se. Ele está mesmo aí e Ana Isabel não perde a oportunidade para o cumprimentar. Abraça o "camarada Jerónimo" e, no final, levanta os olhos vermelhos. É emoção.
E foi assim durante os 450 metros da Rua 1.º de Maio. Abraços calorosos, beijos atirados das muitas janelas cheias. Um corredor de gente acenava à passagem do secretário-geral do PCP, que recusou beber ginjinha, mas respondeu a perguntas. Um popular aproxima-se. "Camarada! Posso fazer-lhe uma perguntazinha, posso interpelá-lo?". "Pode sim senhor", acede Jerónimo. "Qual é a sua visão da nova extensão do aeroporto para o Montijo?". O líder responde: "Nós não concordamos, pensamos que Alcochete era melhor solução". O interpelador concorda. A arruada segue rua abaixo.
A campanha mais tranquila de Jerónimo de Sousa teve esta quarta-feira o primeiro grande contacto com a população, com direito a bombos e gaita-de-foles a condensar a festa. Depois de cerca de 20 minutos de arruada, Jerónimo de Sousa reserva umas palavras à população que "tão bem o recebeu". Há quatro anos, não houve tanto entusiasmo, aponta.
Maria Rosa não arreda pé. Ouve o discurso atentamente e anui a cada frase. De bengala na mão, a idosa de 81 anos percorreu todos os metros da arruada com Jerónimo debaixo de olho. Na mão, traz um dos panfletos com a cara do líder comunista. "O retratinho dele está sempre comigo", garante ao JN.
Viúva, é na sede do PCP da Baixa da Banheira que atenua a solidão. "Vou lá todos os dias ao partido beber a bica e conversar com as minhas amigas", conta. Ao contrário de Ana Isabel, Maria Rosa é mais paciente. "Estou à espera que ele termine de falar e já lá vou".
No fim do discurso, é tempo de poder abraçar o secretário-geral do PCP. Jerónimo de Sousa recebe Maria Rosa de braços abertos. "O meu marido já morreu há 19 anos e também era comunista. Eu sei que ele está lá no céu muito contente por eu estar aqui".