Num 1.º ano da Escola Básica do Falcão, no Porto, um canguru ajuda as crianças a falarem e a gerirem os sentimentos. Chama-se Dropi e anda a correr o país.
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Um canguru. Azul. Orelhudo. De seu nome Dropi. Uma panela de pressão. Numa sala da Escola Básica do Falcão, Porto. Estamos com uma turma do 1.º ano. Pequeninos enormes de curiosidade. De vontade de falar. E de emoções falamos. Do medo. Da alegria. Mas vamos, acima de tudo, ouvir estas 12 crianças. Hoje, que é o dia delas. Mas todos os dias. Porque precisam, e querem, ser escutadas.
A atividade levada a cabo pela Rita Silva, técnica do projeto Na Praça (intervenção comunitária), parte de um excerto do livro “Dá um salto com o Dropi!”, escrito por Daniela Costa numa produção da Associação Unificar, que deu vida a este canguru pelas mãos de Sofia Mexia Alves (ler ao lado). Algures naquelas páginas o Dropi perde-se da mãe e é assolado por múltiplas emoções. Que “pareciam uma panela de pressão prestes a explodir”. Comecemos.
O que é uma panela de pressão? “Serve para fazer sopa”. E como funciona? “Começa a assobiar”. E ouvem-se assobios naquela sala. Entre a “coisa que roda”, a Rita lá explica o conceito de aliviar a pressão. A analogia serve para pôr aqueles dez meninos e duas meninas a pensarem se, “dentro do coração, alguma vez sentiram que quase iam explodir”. Um uníssono “eu”. E param para desenhar, escrever, transpor para um papel. Depositado naquela panela que somos nós, todos os dias. E são eles. Mesmo que não lhes perguntem.
Mas eles querem dizer. Todos. Todas. Ao mesmo tempo. É comum a angústia de quando brincam sozinhos no recreio. Do barulho. “Fico muito irritado quando gritam comigo. Quero gritar também”. E como se alivia essa pressão? “O que faz acalmar o coração?”, pergunta Rita, grávida de seis meses que recebeu “beijinhos” no “bebezinho” à entrada da sala. Podemos correr, salta, brincar, jogar à bola com o irmão, dizem. Mas também respirar fundo. Ou cheirar uma flor. Disse-o, assim, uma menina tímida. Que nos explica que já o tinha feito. E que ficou “aliviada”.
Da partilha segue-se a meditação. O controlo da respiração. A entrega. A empatia. De escolher um colega para abraçar. Atentos a eles. Mas também “a um amigo, familiar, professor ou auxiliar”, explica-lhes Rita. E se para uns a escolha de quem querem abraçar é imediata, para outros não. Passam a vez. E há quem quase fique sem um abraço.
O que não passou despercebido a Helena Ribeiro, a professora daquela turma. E de outras tantas há 37 anos. Já tinha trabalhado com o Dropi com um grupo de 3.º ano, “muito difícil ao nível do comportamento”. Mas, no fim, “conseguimos muito mais facilmente travar os impulsos”. Com este 1.º ano, estava cética. “São muito pequenitos”. Mas abraçaram o canguru e a sua caminhada. Que começa com o “feijão da alegria”. Que todos cuidam. Porque a alegria tem que ser regada. Dando a Helena “pistas para trabalhar”.
Com o passar do tempo vão-se abrindo. Experimentam a máquina fotográfica. Escrevem no nosso caderno o “x”, letra que ainda nem aprenderam. Estamos no final da sessão. “Deixou-me muito relaxado e mais feliz”. Porque, como percebeu o Dropi, “quanto mais conhecia e falava dos sentimentos, mais simples se tornava a sua vida”.