Numa carta aberta, que será entregue esta sexta-feira ao diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os enfermeiros afirmam estar preocupados com as competências que poderão passar para o lado dos farmacêuticos.
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"Apelamos que o diretor executivo do SNS leia os estatutos das profissões e que perceba que não as pode atropelar", afirma Paula Maia, representante da lista C, que foi candidata aos órgãos regionais do Norte da Ordem dos Enfermeiros e que assina a carta aberta.
Entre outras preocupações, os enfermeiros chamam a atenção para as propostas do Livro Branco, apresentado esta semana pela Associação Nacional de Farmácias. O documento sugere que as farmácias apoiem o SNS em diversas áreas, como a prevenção e rastreio de hepatites virais, a vacinação e a saúde mental, por exemplo. Durante a apresentação do documento, Fernando Araújo afirmou que o Livro Branco está "muito bem estruturado e abre um conjunto de dimensões que podem e devem ser exploradas".
Os enfermeiros não veem com bons olhos estas palavras e pedem a Fernando Araújo que leia os estatutos de cada uma das profissões. "No Estatuto dos Farmacêuticos, particularmente no seu artigo 75.º, não conseguimos vislumbrar a base para os eixos estratégicos/dimensões a que se propõe a Associação Nacional das Farmácias e as Farmácias Portuguesas", pode ler-se na carta aberta à qual o JN teve acesso.
Paula Maia explica que além da "transferência" de competências colidir com o estatuto dos farmacêuticos, põe em causa o lugar e os postos de trabalho dos enfermeiros. "Isto começou com as vacinas da covid-19 e da gripe, agora começam a entrar no plano nacional de vacinação e será alargado. Abriu-se a caixa de pandora, nomeadamente na questão da vigilância de saúde, da saúde mental e da referenciação para o hospital", afirma a enfermeira.
Além disso, os enfermeiros temem pela segurança dos utentes. "Tudo o que é vigilância de saúde, de grávidas, crianças e dos doentes crónicos, são os enfermeiros que fazem. Se esta vigilancia for feita pelo farmacêutico, que está menos preparado efetivamente, há a questão do risco para a população", afirma Paula Maia.