Engenheiros e economistas dizem que traçado Lisboa-Madrid não serve os interesses nacionais
As ordens dos Engenheiros e dos Economistas pediram, esta sexta-feira, uma "aprofundada reflexão" e estudos técnicos sobre o traçado da alta velocidade entre Lisboa e Madrid, considerando que a proposta no Plano Ferroviário Nacional não serve os interesses nacionais.
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"A ligação de alta velocidade, prevista entre Lisboa e Madrid, deverá ser objeto de aprofundada reflexão e de estudos técnicos, porquanto não está garantido que o traçado atualmente pensado serve os interesses do país", sustentam os bastonários das ordens dos Engenheiros e dos Economistas, respetivamente Fernando Almeida Santos e António Mendonça, numa posição conjunta, emitida, esta sexta-feira, no final de um debate sobre a alta velocidade, com a presença do secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco.
Em concreto, o traçado, apresentado, há dois anos, pelo ex-ministro Pedro Nuno Santos, que incide sobre o Corredor Internacional Sul, com uma nova linha entre Évora e Elvas. "Esta linha permitirá velocidades iguais ou superiores a 250 quilómetros/hora e, por isso, é uma linha de alta velocidade, de acordo com a classificação da legislação europeia", explicou, na altura, Pedro Nuno Santos.
"É importante que as decisões políticas estejam fundamentadas em qualidade técnica", vincou o bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça, durante o debate "Portugal e a alta velocidade", na Ordem dos Engenheiros, no Porto, em que garantiu que o único intuito da iniciativa e da posição comum é o da "defesa do interesse público".
"Queremos colocar o nosso conhecimento ao serviço da sociedade, contribuir para ser parte da solução", reforçou o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Almeida Santos, considerando que o Plano Ferroviário Nacional "peca por tardio" e que é altura de haver "decisões e execuções".
Na posição conjunta, as duas ordens profissionais defenderam também que "a rede ferroviária de alta velocidade deve assegurar prioritariamente as ligações de interesse nacional que concorram para uma maior coesão territorial", que "é prioritário o desenvolvimento da alta velocidade centrada na linha Braga-Porto-Grande Lisboa" e que a ligação Porto-Braga Vigo (a única ligação ferroviária para Espanha) tenha "o mesmo tratamento de traçado exclusivo".
Os bastonários consideraram ainda "fundamental" que o eixo central da alta velocidade seja ligado à Europa. Durante a sua intervenção, o secretário de Estado das Infraestruturas reafirmou que um dos objetivos do Plano Ferroviário Nacional reside precisamente nas ligações internacionais, ou seja, a Espanha.
No caso da linha Madrid-Lisboa, Frederico Francisco acredita até que "é plausível pensar" que aquela ligação de alta velocidade venha a "matar as viagens aéreas", por permitir uma viagem inferior a 2,5 horas. Já uma ligação a Barcelona ficaria na linha intermédia, uma vez que seria uma viagem com a duração de seis horas.
Na sua intervenção, o secretário de Estado reafirmou o objetivo de se conseguir, através da alta velocidade, eliminar todos os voos domésticos. "Temos um território com uma escala que permite pensar em eliminar as viagens domésticas de avião", sustentou Frederico Francisco.
Para tal, o Plano Ferroviário Nacional aposta na ligação em alta velocidade das 10 maiores cidades do país. No que toca à linha Lisboa-Faro, é preciso garantir que a viagem seja inferior a duas horas, defendeu o governante, apresentado duas soluções: uma mais económica, recorrendo à modernização da linha já existente; outra que envolve a construção de uma nova linha, passando por Évora e Beja.
Fundamental também será que a alta velocidade sirva o novo aeroporto de Lisboa. "Temos que estar preparados para qualquer localização que possa ser escolhida", vincou o secretário de Estado, considerando que a linha do Carregado pode permitir ligações ao aeroporto quer se localize na margem Norte ou na margem Sul.
Uma peça importante, para que a alta velocidade sirva o novo aeroporto e encurte a duração da viagem entre Lisboa e Faro, será uma nova travessia sobre o Tejo (Chelas-Barreiro) que, segundo Frederico Francisco, vai permitir também que se poupe meia hora nos serviços suburbanos.