Escola privada em Vila do Conde abriu mais vagas para ensino articulado do que Estado custeou. Pais e alunos agradecem.
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Democratizar o ensino artístico especializado e levá-lo a todos. Foi esta a premissa de Jorge Casimiro quando, no início do ano letivo, decidiu abraçar o desafio e ficar com todos os alunos que queriam ir para o articulado, mesmo os que não tiveram direito a vaga financiada. À Escola de Artes da Vila foram atribuídas apenas dez vagas financiadas no Curso Básico de Teatro. Nenhuma em Música. O diretor arriscou: avançou com 27 alunos e, pela primeira vez, a EB 2, 3 D. Pedro IV, em Mindelo, Vila do Conde, tem uma turma dedicada de ensino articulado - de Música e Teatro - e a formação artística é dada na própria escola. "Se as aulas não fossem na escola pública, muitos não conseguiam vir. Muitos pais não têm hipótese de andar a levar e a trazer as crianças. Isso foi fundamental", assegura.
Em vez de irem à Escola de Artes da Vila, no centro da cidade, a seis quilómetros de Mindelo, ter as disciplinas da formação artística, é Jorge Casimiro e os outros professores quem leva as aulas à EB 2, 3 D. Pedro IV. "É um modelo em que eu acredito, sobretudo para as escolas que estão mais distantes da cidade. É aproximar este ensino dos miúdos e fazer com que o articulado deixe de ser só para quem vive no centro", afirma.
Ajuda para instrumentos
E porque o dinheiro também não pode - nem deve - ser um entrave, a Escola de Artes da Vila decidiu assumir os custos com as quase duas dezenas de alunos de Música que não conseguiram vaga financiada. "É um esforço geral: nosso, dos professores da escola e com uma pequena contribuição dos pais (40 euros por mês e os alunos que têm escalão estão isentos)", atira o diretor, sorrindo perante o que parecia "impossível".
Na Música, o Estado paga à escola 2600 euros por ano por aluno no Ensino Básico. Na Dança, 2300 e no teatro 800 euros. A Ensemble - Associação de Instituições de Ensino Artístico Especializado critica as diferenças e as verbas.
"É impossível continuar com estes valores sem que as escolas entrem em rutura. Este ano, só a inflação será de 7,4%!", alerta o presidente da Ensemble.
João Correia lembra ainda que instrumentos criados para diminuir desigualdades como a Ação Social Escolar não cobrem, por exemplo, os instrumentos. "Dá-se computadores, mas não se ajuda um aluno que não consegue comprar o instrumento", critica.
Em Mindelo, pela primeira vez este ano, há uma turma de ensino artístico no 5.ºano: 14 alunos (quatro de Teatro, dez de Música). As aulas são todas dadas na EB 2, 3 de Mindelo. A única exceção é a aula individual de instrumento para os alunos de Música (uma vez por semana). Para os pais significa não ter de andar de um lado para o outro, três vezes por semana, em horário laboral.
A Escola de Artes da Vila começou há sete anos como escola particular de Música. Os melhores alunos acabavam encaminhados para o ensino articulado noutras escolas. Em 2018, fez parte do projeto-piloto do Teatro do Bolhão que, em 2022, deu origem à inclusão do Teatro no ensino artístico especializado. Este ano, arrancou com o articulado.