Desalento com ensino regular é um dos motivos apontados para que pais optem pelos cursos especializados de Música, Dança e, este ano, Teatro.
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São já mais de 23 mil os alunos que frequentam o ensino articulado em Portugal Continental, três mil chegaram nos últimos quatro anos, um aumento de 15%. Mais de 50% estudam em escolas da Região Norte. O Teatro juntou-se, este ano, à Música, à Dança e às Artes Visuais e Audiovisuais, mas o número de vagas deixa muito a desejar face à procura. Os diretores dizem que o ensino artístico especializado é cada vez mais solução para quem quer uma "escola diferente" e "bons resultados".
"A procura tem vindo a aumentar, por um lado, porque os pais sabem que as turmas do articulado são muito boas em termos de aproveitamento; por outro, porque há cada vez mais procura por um ensino diferente", explicou ao JN João Correia, presidente da Ensemble - Associação de Instituições de Ensino Artístico Especializado e diretor da Academia do Fundão.
Não tem dúvidas que algum desalento com o "ensino regular" é um dos motivos: pouca importância dada às artes, ausência de estímulo da criatividade, demasiado foco nos manuais e uma "fixação" excessiva pelos programas.
Estimular a criatividade
Criados em 2009, os cursos básicos de ensino artístico especializado de Música e Dança depressa deram frutos. "São, quase sempre, as melhores turmas", diz João Correia. Aprende-se música ou dança, mas, acima de tudo, trabalha-se a organização e o trabalho em equipa, estimula-se a criatividade, abrem-se horizontes às artes.
No ensino integrado e articulado, o Ministério da Educação financia o curso a 100%. Na iniciação e no supletivo, o Estado financia parte e as famílias assumem outra parte, variando consoante as escolas
Em 2017/2018, eram 20 418 os alunos matriculados no ensino artístico especializado, segundo dados cedidos pelo Ministério da Educação. Em 2020/2021 (últimos dados finais apurados), aumentou para 23 410. No Ensino Básico (1.º, 2.º e 3.º ciclos) são já 2,5% do total dos alunos. Ano após ano, o número tem vindo a subir. "Lentamente", reclama João Correia.
Este ano, entraram no Básico especializado no 5.º ano 6893 alunos, 89,6% em Música, 527 alunos em Dança, 150 em Teatro. No Secundário, os números baixam e muito: só 0,17% dos alunos opta pelo ensino artístico.
Nos três cursos já existentes, o "controlo" foi feito pelas matrículas do ano anterior. No teatro, em ano de estreia, "jogou-se por baixo". A Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria já pediu ao Governo para reavaliar: 108 vagas na região é "excessivamente reduzido para acompanhar a procura", queixam-se. A Ensemble subscreve.
Quais as disciplinas? No caso da Música, Formação Musical, Coro e Instrumento. Na Dança, Técnicas de Dança, Música e Expressão Criativa e, no Teatro, Técnicas de Interpretação Teatral, Interpretação, Improvisação e Voz
Segundo o ministério, os contratos de patrocínio para a formação destes alunos vão custar ao Estado 16,2 milhões em 2022, 152 milhões até 2027/2028.
Jorge Casimiro, da Escola de Artes da Vila, em Vila do Conde, diz que há uma tentativa de travar novas vagas, de que o Teatro é exemplo. E acena com os "bons alunos, cobiçados pelo estrangeiro", e - mais importante - com "a formação de melhores jovens e de públicos para as artes, ainda que nem todos venham a ser artistas".
Norte tem 50% das vagas
Na distribuição de vagas por região, o Norte lidera com 50,4% das vagas. Algarve (3%) e Alentejo (4,4%) são os que têm menos oferta. A explicação estará na falta de oferta de escolas artísticas, mas, em parte, também na dificuldade de conciliar horários por parte dos pais. Por isso, há cada vez mais escolas artísticas a levar as aulas às escolas públicas (ler texto ao lado).
A verdade é que há sempre universidades estrangeiras à procura dos melhores alunos portugueses. "Estamos ao nível da exigência dos Países Baixos ou da Inglaterra", remata João Correia.
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Que ensino é este?
A designação oficial é ensino artístico especializado. São cursos de nível básico e secundário destinados a alunos com vocação numa das áreas - Música, Dança, Artes Visuais e Audiovisuais e Teatro -, que procuram desenvolver as suas aptidões.
Como funciona?
Existem quatro regimes: o integrado, o articulado, a iniciação e o supletivo. No integrado, os alunos têm todas as aulas numa escola especializada. No articulado (o mais comum), vão à escola especializada (um conservatório, por exemplo) ter as disciplinas artísticas e as disciplinas do currículo geral são ministrados nas escolas do ensino regular. A iniciação destina-se a alunos do 1.º Ciclo e é complementar à formação de ensino geral e, no supletivo (Básico ou Secundário), além do currículo normal, os alunos fazem o curso de Música à parte.
Dispensa de aulas
No 2.º Ciclo, os alunos dispensam Educação Musical, Educação Tecnológica e Oferta Complementar. A partir do 7.º ano, para além destas três disciplinas, a Educação Visual é opcional. A partir do 10.º ano, o currículo é construído em torno da vertente artística, pelo que só faz sentido para quem quiser mesmo seguir a área.