Maioria das entidades gestoras não tem meios financeiros nem poupa para reabilitar condutas.
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O envelhecimento da rede de condutas de abastecimento de água - que, na maioria dos casos, foi construída nos anos 90 à boleia dos milhões da Europa - é uma "bomba-relógio que está prestes a explodir". O investigador Poças Martins alerta para o facto de a maioria das entidades gestoras nacionais não ter meios financeiros suficientes (até porque praticam tarifas abaixo do custo do serviço) nem poupanças para avançar com as obras de manutenção necessárias.
Nos últimos cinco anos, a taxa média de reabilitação de condutas não ultrapassa os 0,6%, e 70% dos sistemas merecem nota negativa neste parâmetro pela ERSAR. É um país pintado a vermelho, que vai adiando o inevitável. De acordo com a entidade reguladora, "a reabilitação de condutas é insatisfatória no serviço em alta e no serviço em baixa" e ajuda a explicar porque é que a taxa nacional de água não faturada está estagnada (28,8% em 2021).
"É um problema gravíssimo. A maior parte da rede foi construída nos anos 90, quando tivemos muitos fundos comunitários. Está com mais de 30 anos e este tipo de infraestruturas pode durar 50 a cem anos, mas vai começar a dar problemas. Temos de investir na renovação e de fazer um porquinho mealheiro", sublinha Poças Martins, advertindo que as tarifas da generalidade dos sistemas não têm em conta a necessidade de substituição da rede e o país "não terá outra leva de fundos comunitários". Corre-se o risco de as infraestruturas começarem a "rebentar todas ao mesmo tempo", sem que haja poupança para as substituir.
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Poupar 300 milhões
Para o investigador, é preciso apostar na melhoria da gestão das empresas e garantir a autossustentabilidade. "Com melhor gestão, pouparíamos 300 milhões de euros por ano", que serviriam de reserva para as obras. A preocupação é partilhada pela APDA, lamentando que o Plano de Recuperação e Resiliência não contemple verbas para a reabilitação da rede.
"Criou-se a convicção de que o abastecimento de água e saneamento tinham deixado de ser um problema nacional", entende Henrique Salgado Zenha. O vice-presidente da APDA crê ser essencial "encontrar formas de subsidiação que permitam fazer frente aos investimentos", incluindo uma revisão do "quadro de afetação" das verbas do Fundo Ambiental.