A época balnear só arrancou esta semana na maior parte das praias do país mas já morreram cinco banhistas, desde o início do ano, todos em zonas não vigiadas. A maior tragédia deu-se, a 6 de abril, no Meco, com pai e filha de sete anos a perder a vida quando apanhavam mexilhão. A Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (Fepons) calcula que faltam 1500 nadadores salvadores para um verão descansado nas praias costeiras, fluviais e piscinas.
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O presidente Alexandre Tadeia prevê que a falta de nadadores-salvadores leve a que sejam contratadas pessoas sem certificação para auxiliar os nadadores na vigilância. "Já aconteceu, no ano passado, em algumas praias fluviais. Toda a ajuda é boa, mas não é legal e mostra onde chegou a situação em Portugal".
A Fepons aponta para uma necessidade 6200 nadadores-salvadores nas 1500 concessões, em 700 piscinas e em centenas de praias fluviais. Hoje existem 4661 certificados, número avançado pela Autoridade Marítima Nacional, cuja ambição para a nova época balnear é "reduzir a mortalidade e contribuir para a segurança dos banhistas", avança ao JN.
Vigilância todo o ano
Fernando Tadeia alerta para a necessidade de dispositivos de nadadores-salvadores fora da época balnear para garantir o socorro imediato e um maior número de profissionais disponíveis para o verão. Em Portugal, isso já sucede em Carcavelos, Matosinhos, Nazaré e Albufeira. Na Costa da Caparica, em Almada, o dispositivo funciona nos períodos de maior afluência e já permitiu, com nadadores contratados pelo Município salvar quatro banhistas em dificuldades.
A época balnear arrancou mais cedo (a 15 de maio) no Algarve e, por lá, a falta de vigilantes não é tão sentida devido à forte aposta no salvamento aquático. Jorge Azevedo, da Associação de Nadadores Salvadores de Albufeira, congratula a Câmara local por ter nadadores o ano inteiro, o que permite a sua integração no dispositivo do verão. Ainda assim, a dificuldade no recrutamento de profissionais é alarmante. "Cerca de 40% dos novos nadadores não regressam no ano seguinte: são jovens que desistem ou procuram uma profissionalização que não existe".
Incentivos adiados desde 2015
O presidente da Fepons não tem dúvidas de que vai haver falta de nadadores salvadores durante a época balnear, mesmo com a grande procura de guarda vidas sul americanos pelas praias portuguesas. "É necessária uma nova visão do salvamento aquático pelo Governo, do ponto de vista humanitário, tal como sucede na proteção civil ou na segurança pública". Alexandre Tadeia insiste na criação de incentivos, previstos desde setembro de 2015.
Em cima da mesa, está a isenção do IRS para não prejudicar bolsas estudantis, a isenção da propina escolar em caso de bom aproveitamento no ano transato, o estatuto de trabalhador estudante, o acesso a nova época de exames em setembro, o acesso a cinco por cento de vagas nos cursos do IEFP, bem como incentivos à contratação no primeiro emprego. Propõe-se, também, que as empresas que contratem nadadores salvadores com menos de 30 anos tenham um ano de dispensa no pagamento de Segurança Social, bem como um subsídio que possa chegar a 12 vezes o Índice de Apoios Sociais.
De acordo com a portaria que define o regime aplicável à profissão de nadador salvador, estes benefícios deveriam aplicar-se a quem tenha prestado mil horas de trabalho como nadador salvador.
Parceria luso brasileira traz 105 nadadores salvadores
Militares brasileiros com formação portuguesa de nadador-salvador foram certificados pelo Instituto de Socorros a Náufragos no Brasil para trabalhar em Portugal. Este ano, são 105, que vão reforçar a assistência a banhistas nas praias durante a época balnear, principalmente no Algarve.
O reforço surge no âmbito de uma parceria entre o ISN e a Associação Brasileira de Salva Vidas Civis de Rio Grande do Sul (ABRASVIC) que consiste na ida de examinadores do Instituto de Socorros a Náufragos ao Brasil para realizar as provas.
Testemunho
"Trabalhamos o ano inteiro, no verão português e no verão do Uruguai"
Agusttin Tellechea e Andrés Gonzalez são guarda vidas uruguaios e estão entre as centenas de sul americanos que rumaram a Portugal, porque sabem da elevada procura por profissionais.
"Trabalhamos o ano inteiro, no verão português e no verão do Uruguai. É a primeira vez que estamos em Portugal. Soubemos por colegas que há falta de nadadores-salvadores e que as condições de trabalho são boas", diz Agusttin, 28 anos. No Uruguai, a situação é diferente. "Há muita competitividade. Lá temos seis candidatos a uma vaga, cá parece ser o contrário", especifica.
Os dois guarda-vidas querem trabalhar nas praias de Sagres, no Algarve, e já falaram com alguns concessionários. Ainda têm que fazer, este mês, a certificação de nadador salvador. Foi com Marcelo Gomes, antigo dirigente de uma associação de nadadores salvadores brasileiros e que, atualmente, trabalha na Cruz Vermelha de Faro, que conseguiram agilizar a vinda para o país e preparar-se para os exames.
"Queremos praias menos frequentadas, com mais ondas e, em Sagres, encontrámos o que procurávamos", diz Andrés Gonzalez, 27 anos. Os dois guarda-vidas têm formação de Educação Física. "Esperamos que corra tudo bem. As praias em Portugal são magníficas, mas sabemos que têm perigos escondidos. A população tem maior consciência destes perigos e não vamos ter qualquer problema", acredita Andrés.