A época balnear arranca esta segunda-feira em Cascais e em alguns concelhos do Algarve e, até à data, já houve quatro mortes nas praias e 138 ações de salvamento a banhistas. A falta de nadadores-salvadores está a levar muitos estrangeiros a procurar Portugal para exercer a profissão, mesmo com as queixas de que os exames estão mais difíceis. Este ano, metade dos candidatos reprovou.
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De acordo com o Instituto de Socorro a Náufragos (ISN), 51% dos 857 candidatos que, até à data, fizeram exames de aptidão à profissão chumbaram. A percentagem aumentou para cerca do dobro face a 2021, quando chumbaram 27%. Apesar do ISN referir que "o nível de exigência se mantém o mesmo", a Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (Fepons) aponta para "o aumento sem sentido da dificuldade na prova teórica".
Ao JN, o ISN refere que até 24 de abril "foram certificados 423 nadadores-salvadores de um total de 857 exames específicos de aptidão técnica (EEAT) realizados, ou seja, 51% dos candidatos não obtiveram aproveitamento. Em relação a anos passados, verifica-se um incremento de candidatos que não obtêm aproveitamento: 34% em 2022 e 27% em 2021".
Carlos Ferreira, da associação Delfins, no Norte do país, e dirigente da Fepons, lamenta que "na primeira prova que foi realizada este ano, há um mês, apenas seis candidatos de um total de 28 tenham passado. Foi uma razia". O responsável garante que o ISN mudou as perguntas no exame teórico e introduziu algumas que considera não serem indicadas para o trabalho nas praias. "Há questões como as multas aos concessionários ou em que ano foi hasteada a primeira bandeira azul que não fazem sentido e justificam o grande nível de reprovação este ano", afirma. O ISN nega que tenha havido alterações e refere que "o objetivo é que, no fim da formação, os nadadores-salvadores estejam cientes das suas responsabilidades, direitos e deveres, que tenham uma boa cultura de segurança aquática e um grande foco na prevenção e identificação de perigos".
"Custos insuportáveis"
Carlos Ferreira assume que "com menos nadadores-salvadores, o valor pago à hora aumenta quase para o dobro em relação a 2021, o que vai tornar o gasto insuportável para muitos concessionários e haverá a necessidade de as autarquias suportarem gastos para assegurar a vigilância".
Pelo contrário, Paula Vilafanha, presidente da Federação Portuguesa de Concessionários de Praia (FPCP), adivinha menores dificuldades na contratação devido ao fim das restrições pandémicas que levaram ao cancelamento dos cursos. Diz que a falta de nadadores é estrutural e reclama uma alteração de fundo. "Os nadadores-salvadores são na maioria estudantes, o que leva a que o salvamento aquático esteja dependente das épocas estudantis e isso não faz sentido. O ideal é ter equipas de profissionais dedicados ao salvamento aquático o ano inteiro e os estudantes servirem como um complemento no verão".
4138 nadadores-salvadores têm certificação válida até ao final de 2023, de acordo com o ISN. Estes incluem os que foram formados este ano, bem como os que têm a certificação validada por três anos.
Três provas
Os exames específicos para nadador-salvador consistem em três provas: a teórica, com 20 perguntas, na qual os candidatos só podem falhar cinco; a teórico-prática, com manequins com os quais são avaliados as manobras de reanimação; e o combinado, realizado na piscina, no qual são simulados salvamentos.