Com 18 anos feitos cerca de uma semana antes do "dia libertador" - assim se refere à data -, António Capelo vivia em Espinho e frequentava o primeiro ano de Filosofia, na Universidade do Porto. Também trabalhava. "Era, portanto, maior e, para além de vacinado, senhor da minha vida. E nunca uma data influenciou tanto uma vida", recorda.
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Estava longe de sonhar que, 25 anos depois, seria Otelo no documentário ficcionado da SIC "A hora da liberdade". E que voltaria a "habitar" corpos de outras figuras em mais três produções: no filme de Maria de Medeiros "Capitães de abril" e nas séries da RTP "Depois do adeus" e "Mulheres de abril" (a estrear nos 40 anos da revolução).
Regressemos ao António jovem e ao "dia da libertação", como também gosta de dizer. "Lembro-me de passar as primeiras horas da manhã a tentar perceber o que tinha acontecido, de partilhar com amigos da época a alegria e preocupação pelo que se passava em Lisboa". Depois, foi o saltar para a rua: "A rua foi, para a grande maioria de nós, o espaço a habitar e a libertar".
"A sensação que tenho desses tempos é extraordinária no que respeita à discussão de ideias, à partilha de opiniões mas, fundamentalmente, à vivência plena e ao gozo absoluto da nossa liberdade", lembra o ator nascido em Castelo de Paiva. Deixou a universidade, deixou o trabalho, porque a militância tornara-se parte do quotidiano.
Tal como a música e o teatro, aliás. "A minha militância virou-se para aquilo que ainda hoje faço no meu dia a dia: partilhar com os outros o que penso do mundo e da vida dos seres humanos através dessa arte maravilhosa que é o teatro. Sem Abril e sem liberdade, nada disso seria possível".
Mesmo tendo "vivido" intensamente personagens de Abril, é dos dias que se seguiram à revolução que recorda as experiências "mais marcantes e mais intensas".