Análise às notas internas revela que colégios atribuem quatro vezes mais 20 do que as públicas.
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O número de escolas com média negativa nos exames quase duplicou entre 2021 e 2022 (passou de 27 para 50 em 647). Em 2020, tinham sido 10. Um resultado longe das 120 que, em 2019, tiveram classificação inferior a 9,5 valores.
O ranking feito pelo JN com base nas notas dos exames continua a ser liderado por colégios mas há mais escolas públicas entre os 100 primeiros lugares (40) e uma no "top 10": o Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, de Braga.
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Recorde-se que desde 2020, por causa dos efeitos da pandemia no ensino, os alunos só fazem exames como prova de ingresso para o Superior ou quando chumbam a uma disciplina. Mas no próximo ano, já haverá um novo regime de acesso e de cálculo da média do Secundário. As disciplinas, consoante sejam anuais, bienais ou trienais vão ter uma ponderação diferente na média.
Crítico assumido dos ranking, o ministro da Educação sublinhou num encontro com jornalistas sobre os dados do portal Infoescolas, que os indicadores estatísticos - que passaram de 9, em 2015, para 88 - permitem "um retrato mais real e fidedigno do sistema de ensino". O principal objetivo, garantiu João Costa, "é a transparência". Nesse sentido, o Governo anunciou que vai rever o regime sancionatório das escolas privadas por causa da inflação de notas.
"O universo de privadas é quatro vezes menor mas o número de escolas com comportamentos desviantes é 10 vezes maior. É um problema que existe num subsetor e não no outro", frisou João Costa.
Sanções no concurso
Desde 2019 que o ministério não divulga o nível de desvio entre notas internas e de exames. Mas este ano foram reveladas classificações atribuídas pelas escolas públicas e 101 colégios. O JN contou quantos "20" foram atribuídos: 33500 nas secundárias (5,4% do total de notas dadas nas públicas) e 6812 nos colégios (23,11% do total de classificações atribuídas). Em 14 colégios a percentagem de 20"s correspondeu a mais de 40% das notas atribuídas e em dois a mais de 50%. E destes 16, apenas três surgem no topo da tabela dos exames.
A presidente do Sindicato dos Inspetores da Educação e do Ensino, Bercina Calçada, alerta que a inflação de notas tem aumentado à medida que a inspeção geral perde recursos. E garante que a eliminação da prática depende de um acompanhamento sistemático das escolas só possível com um reforço do número de inspetores - 150 para mais de oito mil estabelecimentos.
Já os investigadores da Universidade do Porto que estudaram a inflação de notas, Gil Nata e Tiago Neves, sugerem que quando uma escola inflaciona notas dois anos seguidos, os seus alunos devem concorrer ao Superior apenas com os resultados dos exames.
Este ano volta a haver ranking feito com base nas provas nacionais do 9.º ano. Mais de metade das escolas tiveram média negativa.