Queda foi maior a Português com resultados abaixo de 50% a passarem de 1,3% para 30,26%
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Após dois anos suspensas por causa da pandemia, os alunos do 9.º voltaram a fazer provas nacionais de Língua Portuguesa e Matemática no ano passado. Os resultados pioraram. Se em 2019, menos de um quarto das escolas (23,6%) teve média negativa nas duas avaliações, no ano passado foram mais de metade (56%). Ou seja, mais do que duplicaram os resultados insuficientes.
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O "trambolhão" foi pior entre públicas e a Português. Num total de 1183 escolas onde se realizaram mais de dez provas (critério de análise do JN), 202 eram privadas e 981 públicas. Mais de metade (663, 56%) tiveram média negativa: 633 públicas e 30 colégios.
A média de Língua Portuguesa desceu de 65,55%, em 2019, para 54,43%. Manteve-se positiva mas caiu 11,12 pontos percentuais e a percentagem de escolas com média negativa na prova passou de 1,3% (16 estabelecimentos) para 30,36% (358 escolas). Uma quebra "que deve inquietar", assume o presidente da Associação de Professores de Português (APP).
Os alunos que fizeram provas no ano passado passaram quase todo o ciclo em pandemia e Luís Filipe Redes atribui a quebra ao ensino à distância. "Não vejo mais variáveis", afirma, propondo outra gestão das turmas - alunos com dificuldades na leitura deviam integrar grupos mais pequenos até melhorarem em vez de se manterem nas turmas e se perderem, defende. A avaliação também devia ser ajustada aos alunos, aponta.
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Falta de professores
A média de Matemática manteve-se negativa (45,23%) mas relativamente a 2019 desceu apenas 1 ponto percentual. O presidente da Associação de Professores de Matemática desvaloriza, por isso, a quebra.
"Uma diferença de apenas uma unidade em 100 não tem qualquer significado", frisa Joaquim Pinto, criticando a "ausência de referenciais estatísticamente comparáveis" entre as provas.
Já o presidente do Conselho das Escolas começa por sublinhar que a queda não o surpreende. O órgão consultivo do ministério da Educação defendeu, aliás, que as provas não se deviam realizar por causa do vaivém constante de alunos e professores infetados com covid-19 durante o ano letivo. Depois, frisa, António Castel-Branco, a falta de professores cada vez mais agudizante reflete-se nas tabelas. A partir de setembro, há regiões onde é quase impossível conseguir-se substituições e nesses casos ou se dá horas extraordinárias a outros docentes ou os alunos perdem aulas, alerta.
"É preciso não esquecer que o plano de recuperação das aprendizagens não dá os resultados que devia porque há falta de professores", argumenta, garantindo que os docentes colocados para reforçar esses apoios ou tutorias são constantemente desviados para dar aulas em substituição. As escolas têm, por isso, de manter tanto o plano como os técnicos especializados, frisa.