Diretores e confederação de pais preocupados com visualização da série por alunos. Especialistas dizem que conteúdos têm de ser bem explicados.
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Diretores, Confederação de Pais (Confap), PSP e GNR partilham um mesmo receio: que nos recreios de escolas se comece a registar, como noutros países, casos de violência por os alunos imitarem os jogos da série "Squid Game". PSP e GNR ainda não registaram queixas mas garantem estar atentas. Para o presidente da Associação de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, "é uma questão de tempo até chegar" a Portugal. Os especialistas alertam que os episódios de violência são um "ansiogénico", que pode causar causar "pânico" e dificuldades de socialização em crianças e adolescentes.
Mais de 111 milhões de pessoas em todo o mundo viram a série sul-coreana em cerca de um mês. É um fenómeno global e um recorde da Netflix. Está classificada para maiores de 16 anos mas é facilmente visualizada através de vídeos disponíveis em redes como o Instagram, Tik Tok ou Youtube. Na Bélgica, uma menina foi chicoteada na cara com uma corda por ter perdido num dos jogos; no Reino Unido, pistolas "nerf" são "disparadas" junto à cabeça dos que perdem.
"Mais do que as escolas, são as famílias que têm de fazer esse controlo. É a única forma", frisa ao JN o dirigente da Confap, Alberto Santos.
"Squid Game" conta a história de um grupo de pessoas que vivem situações de desespero devido a dívidas e são convidadas a participar numa competição de seis jogos que remetem para a infância em troca de um prémio valioso. Quem perde é assassinado. Episódios de violência, suicídio, tráfico de órgãos e luta desenfreada pela sobrevivência são ingredientes que para a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos fazem da série "um ansiogénico" que pode gerar pânico em adolescentes e crianças.
"É hipnotizante. O espectador não perde tempo a pensar no que as personagens estão a sentir, apenas em quem vai perder a seguir". Além disso, sublinha, os organizadores dos jogos têm máscaras com figuras geométricas. "Não têm caras e isso é o pior que se pode tirar a humanidade. Não se percebe o que sentem".
dependência aos 8 anos
Tanto a pedopsiquiatra como o psicólogo João Nuno Faria defendem que a série não pode ser vista por menores de 16 anos. E, a já ter acontecido, "é fundamental", sublinham, que as famílias "desmontem" o conteúdo.
"Se não for devidamente contextualizada, esta visualização pode trazer alguma distorção na compreensão da realidade. Por isso, é fundamental o papel de mediação na interpretação e explicação dos conteúdos". Se esse papel não for cumprido, insiste o psicólogo, os pais estarão a "demitir-se" dessa responsabilidade e a cooperar com uma visualização que acarreta riscos para o desenvolvimento dos menores.
Especialista em dependência de videojogos, João Nuno Faria alerta que muitos pais nem sabem que os videojogos também têm uma classificação etária. O paciente mais novo que acompanhou tinha oito anos, não tinha outros interesses senão jogar, mentia para o fazer e reagia "muito mal" quando o impediam. O psicólogo refere que não existe nenhum estudo que confirme a causalidade direta entre a visualização de violência e a sua prática.
"A situação é preocupante, tal como há uns anos o desafio Baleia Azul. As escolas têm de estar vigilantes. Esses conteúdos estão facilmente à mão de semear dos alunos", alerta Manuel Pereira.
Prevenção
Cartas e orientações
O Governo de Macau apelou aos pais para não deixarem crianças ver a série. O ministério da Educação do Luxemburgo vai emitir orientações às escolas. Em Espanha, Bélgica ou Austrália há estabelecimentos a enviarem cartas aos pais. O JN perguntou ao ME se irá emitir alguma recomendação mas não recebeu resposta até ao fecho desta edição.
PSP usa imagem
No Instagram, a PSP usou uma das imagens da série para promover a campanha contra a violência escolar. "O Bullying é um Squid Game, parece brincadeira mas não é", lê-se na legenda.