Por todo o país, há escolas que não prestam os cuidados de saúde exigidos por crianças com diabetes tipo 1. As associações falam de casos extremos em que pais deixam de trabalhar, para assegurarem eles próprios a medição de nível de glicemia e a administração de insulina, ao longo do dia. Mais frequente é saírem do trabalho várias vezes ao dia para se certificarem de que os filhos estão bem.
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As escolas garantem que as crianças são acompanhadas, mas à custa de desviar recursos humanos necessários para os restantes alunos.
O tipo de apoio dado aos milhares de crianças e jovens com diabetes tipo 1 varia no país. Emiliana Querido, da Federação de Associações de Pessoas com Diabetes, assegura que há regiões e escolas com um comportamento exemplar, mas lamenta que sejam a minoria: "Temos relatos diários de escolas que não correspondem às necessidades, na disponibilidade para acompanhar os alunos ou receber a informação necessária".
Emiliana Querido conta histórias de pais que pagam a assistentes operacionais para que ajudem os filhos e de professores que não os deixam comer sempre que sintam os níveis de açúcar no sangue a descer. Mais grave é o caso de um menino levado de urgência para o hospital com uma crise de hipoglicemia, porque o professor trancou o medidor na sala durante o intervalo. Ou de uma escola que demorou meio ano a agendar uma sessão de esclarecimento e, no dia, compareceram assistentes operacionais, mas não professores. "Só demora duas horas, não teriam tempo?", questiona.
Cenário semelhante é vivido por Paula Klose, da Associação de Jovens Diabéticos: "As escolas não recusam a matrícula, mas dizem que não podem garantir à criança o acompanhamento de que precisa. E os pais pensam duas vezes".
Tapar a cabeça e destapar os pés
É frequente Catarina Limbert, da Sociedade de Endocrinologia e Diabetologia Pediátrica, ouvir queixas: "As escolas têm a obrigação de acompanhar as crianças, mas muitas não o fazem porque não querem assumir a responsabilidade". E garante haver casos de má vontade e de falta de meios.
Esta segunda é a razão invocada por Filinto Melo, da Associação de Diretores de Escola (ANDAEP). "São designados assistentes operacionais que assumem a responsabilidade de acompanhar as crianças", diz. Mas como as escolas vivem com muito menos destes profissionais do que o necessário, as restantes crianças ficam mais descuradas, lamenta.
Orientação "na gaveta"
Questionados, o Ministério da Saúde não respondeu e o da Educação remeteu para uma orientação conjunta, de 2016. Lá, a Saúde compromete-se a fazer um relatório de terapêutica e dar formação à escola; a Educação diz que as escolas devem identificar a pessoa que acompanha o aluno, mas não oferece solução se nenhum professor ou assistente operacional assumir a responsabilidade.
Além disso, diz Emiliana Querido, a orientação ficou "na gaveta". Tal como um manual que já devia ter sido distribuído por todas as escolas, para uniformizar procedimentos e ajudar as escolas.
O que é a diabetes tipo 1?
Nesta doença sem cura, o pâncreas não é capaz de produzir a insulina de que o organismo necessita para processar o açúcar existente no sangue. Ao contrário da diabetes tipo 2, não está associada a maus hábitos de vida.
Que cuidados exige?
É necessário medir de forma regular os níveis de açúcar no sangue e administrar insulina sempre que seja preciso. E prestar atenção a sintomas de hiperglicemia (visão turva, boca seca, suor, cansaço) ou hipoglicemia (distração, tremuras ou palidez).
As bombas ajudam?
Sim, as bombas de insulina que estão a ser gradualmente atribuídas às crianças e jovens até aos 18 anos são úteis, porque evitam a injeção. Os aparelhos são acoplados à barriga da criança e a insulina é ministrada pelo simples pressionar de um botão. Mas não fazem tudo. O cálculo da quantidade a injetar tem de ser feito a cada passo.
A quantidade varia?
Há vários fatores que influenciam a quantidade de insulina que uma pessoa com diabetes tipo 1 deve receber. Saber se vai fazer exercício físico é um fator fundamental. Outro é avaliar a quantidade de hidratos de carbono ingeridos a cada refeição. Há tabelas que ajudam a calcular a quantidade de insulina necessária