Alberto Santos Silva tem uma nota roubada ao banco da Figueira de 1967.
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É no centro de Vilar de Andorinho, em Vila Nova de Gaia, que se encontra um dos maiores tesouros de Portugal em notas de escudos. Alberto Santos Silva, de 71 anos, colecionador há 56, tem exemplares de notas de todas as séries, meticulosamente plastificadas sob várias camadas, dentro de pastas verdes, organizadas por categoria de raridade.
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Os olhos do colecionador (e vendedor, dono da Numisgaia) brilham mais quando mostra a nota de dez contos VDO1163, que foi roubada do banco da Figueira da Foz em 1967 para financiar o combate à ditadura. "Esta foi roubada, foi o Camilo Mortágua com o [Hermínio da] Palma Inácio. Eu tenho os números das séries das notas que foram roubadas e esta foi uma delas", afirma Alberto, enquanto folheia com cuidado as páginas das várias capas verdes com escudos raros.
O facto de a nota ser do roubo ao banco da Figueira dá-lhe "um valor incalculável" e Alberto não a troca "por nada", assegura, enquanto explica que o valor de cada nota ou moeda varia consoante a raridade. É por isso que Portugal "é um paraíso para colecionadores internacionais, atesta: "Além de as notas serem bonitas, somos um país pequeno e, como tal, há menos notas e menos emissão, logo há mais procura".
Ainda assim, o "olho de lince" do colecionador permite-lhe distinguir num par de segundos o que outros só conseguiriam de lupa. "Vê esta assinatura? É diferente desta porque mudou o governador do Banco de Portugal", revela, para explicar que uma vale mais que a outra porque o governador esteve menos tempo no cargo e, como tal, "assinou" menos notas. Há inúmeros fatores de valorização de uma nota: desde erros de corte a erros de impressão, passando por números de série em capicua ou asteriscos. "Desde que estejam novas, para colecionadores têm sempre valor. Por uma nota nova de 10 000 escudos pode-se pagar entre 65 e 70 euros, dependendo da assinatura". Este valor é em Portugal, porque a negociação lá fora pode atirar a quantia para mais de 100 euros.
Alberto tem notas com e sem capicua, com erros de impressão e corte de todos os feitios e até notas sem número de série ou folhas inteiras impressas que estão por cortar. "Ao longo dos anos, sempre que me apareciam notas novas eu guardava e depois é que fazia essa seleção", recorda. Depois começou a frequentar leilões e a comprar também, até perfazer a coleção com milhares de notas e moedas que guarda num sítio secreto fora da loja.
Para quem ainda tem notas de escudo, Alberto aconselha: "Se forem novas, o melhor é não levar ao Banco de Portugal, porque eles vão destruí-las".
Perguntas e Respostas
Onde trocar as notas?
Até 28 de fevereiro, numa das tesourarias do Banco de Portugal, em Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Viseu, Ponta Delgada e Funchal. O envio por correio é outra alternativa, mas tem regras.
Quais as regras para enviar pelo correio?
As notas têm de ser inseridas num envelope com a indicação de que "contém numerário". Este envelope deve ser inserido dentro de outro que contém os dados, nome, identificação e IBAN, para que a transferência seja feita. O envio é por correio registado para a morada do Banco de Portugal.
Se as notas estiverem sujas ou estragadas, podem ser trocadas?
As notas sujas, danificadas e até as rasgadas podem ser trocadas, desde que seja possível reconstituir pelo menos 75% do total da área da nota. No caso das notas rasgadas, os 75% são calculados com base na união dos fragmentos.
O que acontece com as notas trocadas?
As notas entregues no Banco de Portugal são destruídas por granulação. Os fragmentos que resultam do processo são compactados e depois são encaminhados para centrais de tratamento de lixo, onde são queimados para produzir energia elétrica.