Última série da moeda antiga prescreve dentro de uma semana, mas ainda há mais dinheiro cá fora do que todo aquele que foi trocado nos últimos 20 anos. Só as notas novas valorizam.
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O adeus definitivo à possibilidade de trocar notas de escudo por euros é no dia 1 de março, mas a maior parte do dinheiro não deu entrada no Banco de Portugal (BdP), que está prestes a poupar um total de 187,52 milhões de euros com as notas de escudo não trocadas.
Quem tiver notas da série dos Descobrimentos (ver ao lado) ainda as pode trocar até ao dia 28 deste mês, mas a maioria dos portugueses está a optar por não o fazer. A uma semana do fim do prazo, o BdP assinala que em 20 anos passados desde o fim do escudo foram trocadas notas no valor total de 158,6 milhões de euros e estão por trocar 187,52 milhões, em todas as séries da moeda antiga.
No que toca à série dos Descobrimentos, a única que ainda não prescreveu, foram devolvidos 63,98 milhões de euros em notas de escudo, mas estão por entregar 94,66 milhões de euros. São estes 94,66 milhões de euros que o Banco de Portugal vai poupar se não tiver que pagar pelas trocas. A este valor juntam-se os 92,86 milhões de euros em notas que já prescreveram de outras séries, o que totaliza 187,52 milhões de euros de poupança.
Entra no orçamento
É certo que o prazo para trocas ainda está a decorrer e o valor pode ser menor, mas a expectativa não é de grandes oscilações. "Provavelmente, ficarão mais de 90 milhões de euros de notas de escudo por trocar" da série dos Descobrimentos, admite Pedro Marques, diretor de emissão e tesouraria do BdP. O valor que este organismo poupar é encaixado como receita do Orçamento do Estado, sob a forma de dividendos.
Guardadas por afeto
Há várias razões para os portugueses optarem por guardar as notas de escudos em vez de as trocarem no BdP. Ilídio Pinto, presidente da Associação Numismática de Portugal (ANP), afirma que "o colecionismo e o saudosismo pelo escudo serão um motivo evidente". Jaime Ferreira, vice-presidente da mesma associação e diretor da revista "Numismática", aponta ainda o "desinteresse, desleixo, desconhecimento e a ação de agentes naturais" como a humidade e fungos que atacam o papel, para o facto de existirem mais notas de escudo na rua do que trocadas.
Outro fator - este mais complexo - é o potencial de valorização, pois há muita gente a guardar escudos na expectativa de que valorizem no mercado de colecionadores. Isto é uma boa ou má ideia, consoante o estado de conservação da nota. Ou seja, as notas de escudo que estão em bom estado "já valorizaram", revela Ilídio Pinto, e hoje uma nota simples em bom estado de conservação pode valer, nesse mercado, o dobro do seu valor monetário inicial.
O problema é que esta valorização só acontece quando a nota está impecável, quase inutilizada, caso contrário o melhor é mesmo trocá-la, adianta o presidente da ANP: "Não se justifica guardar notas em mau estado de conservação". Ou seja, se tem em casa uma nota suja, com cortes, dobras ou vincos, o melhor é "optar pela troca", acrescenta. Notas com números de série capicua, asteriscos ou falhas de impressão valem mais, pela raridade.
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Novas notas Euro
As notas de Euro vão na segunda série. O Banco Central Europeu já está em processo de escolha da terceira, o que deverá acontecer até ao fim deste ano, para entrada em circulação até 2025.
Atenção às burlas
As alturas em que terminam os prazos para trocas de escudos por euros são propícias a burlas. O BdP informa que não terá gente a fazer trocas porta a porta e se alguém se fizer passar por funcionário da instituição o aconselhável "é chamar a polícia".
Por dentro
500: Entre outubro de 2021 e janeiro de 2022, foram trocados cerca de 500 mil euros de escudos.
78,7: Os 187,52 milhões de euros em notas de escudo não trocadas correspondem a 78,7 milhões de notas.
5000: As notas verdes de cinco mil escudos são as mais guardadas, em todas as séries. Não há motivo aparente.