Oleiros recebeu cinco bebés no ano passado. A inversão demográfica fala várias línguas.
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Luna, de seis meses, foi a primeira bebé a nascer no Vale, freguesia de Estreito, no concelho de Oleiros, em mais de 30 anos. Em Roqueiro, foi Henrique, de cinco meses, que quebrou um jejum de 28 anos na natalidade. São exemplos da esperança que renasce no concelho que era o mais envelhecido em 2023, com 720,1 idosos por cem jovens (740,6 em 2022 e 790,6 em 2021), segundo o Instituto Nacional de Estatística. Mas que, também no ano passado, foi um dos que ganharam crianças até aos 14 anos, passando de 303 para 308, a maioria com menos de quatro anos. No total, representam 6% dos 4888 habitantes. A inversão demográfica fala português e muitas línguas, com o crescimento da comunidade estrangeira.
“A Luna é a nossa bebé do Vale. A minha filha mais nova tem 32 anos, por isso, não é difícil fazer contas”, frisa Lúcia Almeida, a quem Latara Santos, mãe da bebé, chama de “mãe” portuguesa. “Não sei se serei a mãe, mas ela perdeu recentemente o filho mais velho, que ficou no Brasil, e sofro com a dor dela. Os meninos são como meus netos”. A chegada de gente nova é positiva para todos e para a escola, “que arriscava fechar e agora está cheia”.
Latara Santos chegou a Oleiros por engano. “Caí aqui de paraquedas, porque os planos iniciais eram vir do Brasil para Leiria. Mas sofri um golpe com as passagens e uma amiga minha veio e eu fiquei. Ela já tinha um primo na Sertã e encontrou-me esta casa no Vale e em boa hora foi”. Chegou há dois anos, com o marido Márcio Bruno e os três filhos mais novos (de 12, sete e quatro anos). O marido é soldador, mas em Oleiros trabalha no setor da madeira e ela como empregada de mesa, em Roqueiro.
Foi nesta freguesia que nasceu Henrique, uma estreia para Inês Pratas e Alexandre Barata, e uma alegria para a aldeia.Ela vivia na Margem Sul e ele entre Pombal e Leiria. Conheceram-se no Alentejo, onde estudaram agricultura biológica e descobriram o desejo comum de viver no campo. “Quando o Alexandre me trouxe aqui, apaixonei-me de imediato. O que sonhava materializou-se e soube logo que era para a vida toda”. Chegaram há cinco anos e foram muito bem recebidos, mas foi quando Henrique nasceu que “ficaram todos maravilhados, é a estrela do Roqueiro”.
Alexandre planeou dar explicações, mas nesta nova realidade não abundam jovens e adaptou-se. A pintura de Inês encontra aqui novas linhas de inspiração. Deu aulas sobre preservação do ambiente e noções de sustentabilidade, mas “como no concelho já há uma comunidade considerável de estrangeiros, falantes de inglês”, também ensina português. No seu projeto Guardiã do Bosque vai pintando os traços da natureza, trabalhos que expôs e espera continuar a mostrar em Oleiros. A fotografia de Alexandre complementa a pintura de Inês.
Quanto ao bebé, há dois desafios que preocupam o casal: a saúde (o pediatra mais próximo é na Sertã) e a educação, embora neste ponto haja sinais positivos. “Estamos habituados a ver as escolas fechar, mas agora aqui assistimos ao contrário, o que é muito bom para estes territórios.”