Com o espaço dentro dos estabelecimentos obrigatoriamente reduzido, as mesas ao ar livre são a solução possível para que os níveis de negócio retomem, também eles, a normalidade. Câmaras facilitaram licenciamentos, proprietários tentam recuperar os números do passado.
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Após dois meses de encerramento forçado por força das medidas de contenção da pandemia de covid-19 impostas pelo Governo, restaurantes, cafés e pastelarias retomaram a atividade no passado dia 18. As novas regras obrigam a que os estabelecimentos reduzam a capacidade para que se cumpram as devidas distâncias de segurança sanitária, o que levou à diminuição da capacidade de lotação interior. As esplanadas ganharam inesperado protagonismo, agora aumentadas em tamanho por incentivo das autarquias locais e tidas como grande aposta dos empresários da restauração para conseguir obter no exterior o que se perdeu em rentabilidade no interior.
No Porto, a solução da Câmara Municipal para "impulsionar um tecido económico altamente fragilizado pela crise" foi autorizar o licenciamento de esplanadas em espaços antes interditos, como lugares de estacionamento, largos e praças. Dados da Autarquia revelam que, até meados do mês, foi autorizado o aumento da área de 123 espaços, o que se traduz em mais 63% de área de esplanada na cidade. Lisboa adotou medida idêntica e isentou de taxas até ao final do ano os comerciantes que pretendam esplanadas.
Outros municípios seguiram conceito idêntico. Em Matosinhos, a Câmara referiu que pedidos do género " estão a ser vistos e respondidos diariamente". Até ao passado dia 27, deram entrada nos serviços municipais 24 solicitações de aumento da área de esplanada, geralmente aprovadas desde que "não seja comprometida a segurança da circulação viária e pedonal na envolvente".
Montadas em lugares de estacionamento, praças e largos
Já em Vila Nova de Gaia, foram excecionalmente permitidas as esplanadas em lugares de estacionamento, praças e largos, assim como em Gondomar, Coimbra ou Cascais. Em Aveiro, Santa Maria Feira, Covilhã, Sardoal, Porto de Mós ou Azambuja houve isenção de taxas de ocupação. Em Esposende, foi aprovado o alargamento excecional das esplanadas, o mesmo sucedendo em Leiria, Oeiras, na Lousã, em Seia, em Vila Nova de Poiares, em Montemor-o-Velho, em Cinfães ou em Vendas Novas, entre outros concelhos.
Mesmo assim, os problemas subsistem. Casos há em que a possibilidade de alargar a área de esplanada é impedida por imposição de espaço. É o que sucede em plena Praça da Liberdade, no Porto, chamariz de gente quando os tempos eram de multidões a inundar as ruas. "Por mais que quiséssemos, não conseguiríamos aumentar a capacidade da esplanada, porque é impossível expandir em largura devido às esplanadas vizinhas. Ao fim e ao cabo, até acabámos por perder mesas", sublinham Rute Silva e Marcos Matias, da Padaria Celeste. Ao lado, na Confeitaria Ateneia, o problema é o mesmo. "Não existe espaço disponível, infelizmente. E também não há turismo, por isso a afluência não tem sido grande, cerca de 70% de clientela a menos em relação ao período anterior à pandemia", calcula Nuno Alves, funcionário da Ateneia.
Faltam clientes, e enquanto o turismo em massa não regressar ao Porto, acredito que a situação não irá alterar-se
O mesmo acontece num dos cafés históricos do Porto, o Embaixador, na Rua de Sampaio Bruno. Lino Perestrelo, o proprietário, lamenta que, após um par de meses de portas fechadas e de ter sido obrigado a reduzir o número de mesas, a área de esplanada seja impossível de expandir. "Por mais que quisesse, e gostaria muito, o espaço disponível é rigorosamente igual ao anterior", desabafa.
Noutro chamariz do Porto, a Ribeira, a pandemia levou turistas e retirou negócio. O retrato das esplanadas é francamente desolador, quando comparado com tempos recentes e, apesar das medidas tomadas pela autarquia, que os comerciantes locais aplaudem, o negócio continua a registar números confrangedores por manifesta falta de clientes. "Faltam clientes, e enquanto o turismo em massa não regressar ao Porto, acredito que a situação não irá alterar-se", antevê Rúben Azevedo, da Esplanada Taberna, a maior, em área, das ali existentes.