Os partidos recebidos esta terça-feira pelo presidente da República, em Belém, mostraram-se apreensivos com as consequências que um PS maioritário no Parlamento poderão ter para o país. O PCP reconheceu que os resultados eleitorais tornam o diálogo "mais difícil" e o BE lembrou que a última maioria absoluta socialista foi "de má memória". Os líderes de ambos os partidos recusaram sair.
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À saída da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, Jerónimo de Sousa considerou que o desfecho da ida às urnas foi a prova de que o PS quis forçar eleições "para se ver livre" da intervenção dos partidos de Esquerda.
"Isto torna a situação mais difícil e exigente", reconheceu, acrescentando que a maioria absoluta "pode fechar possibilidades reais de convergência".
O líder comunista desconfia da intenção, manifestada por António Costa na noite eleitoral, de promover uma "maioria de diálogo": "Se se confirmar o objetivo do PS de fugir à intervenção e à proposta do PCP, então essa via de convergência acaba por ficar, naturalmente, mais estreita", alertou Jerónimo.
Questionado sobre o mau resultado eleitoral o fará colocar o lugar de secretário-geral à disposição, Jerónimo reagiu: "Já encontrei dez formas diferentes de dizer a mesma coisa, mas quero dizer, em termos de síntese, que a questão não está colocada".
BE: "Maiorias absolutas são permeáveis ao poder económico"
Catarina Martins, coordenadora do BE, também não pondera deixar o cargo. "Cá estarei para cumprir o meu mandato por inteiro", afirmou, revelando continuar a sentir-se "muito confortável" na pele de dirigente máxima do partido.
Sobre o resultado do PS, a bloquista alertou que "as maiorias absolutas são muito permeáveis ao poder económico", salientando também que a maioria absoluta mais recente, alcançada por José Sócrates em 2005, "não deixou boa memória no país".
Catarina reconheceu ainda que o trabalho da Esquerda para proteger os serviços públicos da "predação" dos grupos económicos será "muito exigente". Argumentando que o BE "criou sempre pontes" à Esquerda, salientou que existiu sempre uma "enorme convergência" com o PCP em temas como a Saúde ou o Trabalho.
Bebiana Cunha, dirigente do PAN, defendeu que as maiorias absolutas podem ser "prejudiciais para a democracia", lançando o "repto" ao Governo para que este se mantenha "disponível para o diálogo e para o debate democrático". Em concreto, pediu que este mantenha, no Orçamento do Estado, as medidas que já estavam a ser negociadas com os animalistas.
A antiga deputada, que era cabeça-de-lista pelo Porto mas que falhou a reeleição, também deixou críticas a um sistema eleitoral que permitiu o desperdício de "quase 700 mil votos" no domingo. Explicando que, caso existisse um círculo eleitoral único, o PAN teria eleito três deputados e não apenas um, alegou que esse resultado "traduziria melhor" a vontade dos portugueses.
Também Rui Tavares, deputado único recém-eleito pelo Livre, abordou as possibilidades de diálogo entre o PS e a Esquerda. "A bola vai estar do lado do Governo", afirmou, fazendo votos para que Costa se mantenha "fiel" ao compromisso de auscultar as diferentes forças políticas.
Tavares anunciou ainda que irá pedir reuniões a todos os partidos de Esquerda e ao PAN, argumentando que um dos motivos para o fim da geringonça foi a "falta de articulação e contactos" entre as várias forças desse lado do espectro político.
As audiências dos partidos em Belém terminam esta quarta-feira, com Marcelo a receber, por esta ordem, IL, Chega, PSD e PS.