O Estado está a gastar menos dinheiro com os doentes que precisam de fazer hemodiálise, apesar de cada vez mais pessoas necessitarem de fazer este tipo de tratamento.
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Um estudo do Centro para a Saúde Global da Universidade Nova de Lisboa (NOVA Center for Global Health Lab) estima que o custo caiu 21% entre 2010 e 2021. No ano passado, foram gastos 377,54 euros semanais por doente.
Os investigadores explicam que, “todos os anos, há um número crescente de pacientes a fazer terapia de substituição do rim, porém eles não são ouvidos nas políticas públicas”. O número de doentes a precisar de fazer hemodiálise tem vindo a aumentar: entre 2010 e 2021 subiu 40%. Por outro lado, o custo do Estado com cada doente diminuiu e passou de 27.218 euros anuais para os 21.420 por ano, no mesmo período temporal.
A doença renal crónica é “responsável por uma larga porção da despesa pública na saúde”, mais até do que no cancro e na diabetes. Os autores do estudo lembram, contudo, que há doentes com cancro com maior qualidade de vida do que aqueles que estão a fazer hemodiálise. Foi registada uma diminuição de 27% na despesa semanal do Estado com o tratamento de substituição de rim.
Em 2022, foram gastos 377,54 euros, menos 140,79 euros do que no ano de 2011. O valor, para além de não acompanhar o crescimento do número de doentes, também não tem em conta a inflação e a subida dos custos com os materiais.
Atenção às margens
Em Portugal, apontam os investigadores, a hemodiálise é maioritariamente feita em privados que foram contratados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). Um relatório de monitorização da Entidade Reguladora da Saúde apontava, em dezembro de 2022, que mais de 92% dos doentes fazia o tratamento nos setores privado e social. “Se as margens [financeiras] forem demasiado pequenas, os prestadores podem decidir não fazer esse serviço”, explicam os investigadores.
“Não é provável que as unidades do SNS tenham capacidade para acomodar uma repentina e imensa transferência de pacientes oriundos dos prestadores privados”, alertam. Os investigadores recomendam uma atualização do preço dos tratamentos, que tenha em conta “as mudanças nos custos da prestação de diálise” e pedem uma melhoria na gestão dos dados, com enfoque nos estadios mais precoces da doença.