Termómetros acima dos 30 graus Celsius, granizadas, chuva, trovoadas e poeiras do Norte de África. Num clima cada vez mais quente e seco. Dos dez anos mais tórridos, cinco ocorreram já neste século. E, dos mais secos, contam-se seis. Se neste ano hidrológico choveu apenas metade do que é normal, a gestão da água, com a chegada do verão, preocupa peritos e governantes. Com mais medidas na calha.
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Analisando as séries do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (1971-2000), constata-se que, entre 2000 e 2021, a temperatura média do ar esteve acima da normal em 19 anos, sendo que, em dois anos, a anomalia foi baixa, ficando muito perto da média. Quanto à precipitação no mesmo período, esteve 12 anos abaixo da normal. Num claro agravamento neste século. Os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) facultados ao JN mostram que metade dos dez anos mais quentes (temperatura média) ocorreu neste século. Sendo o mais tórrido 1997, com uma temperatura média de 16,57ºC (ver infografia). Quanto à precipitação, contam-se seis dos dez anos mais secos. Numa tabela liderada por 2005, quando Portugal viveu a seca mais intensa e de maior extensão territorial.
E a situação que o país atravessa é crítica. O presente ano hidrológico (outubro a maio) é o segundo mais seco desde 1931. O pior volta a ser 2004/2005. Se agora se conta uma precipitação de 393,9 milímetros (mm), em 2004-2005 contavam-se 377,1 mm. O que significa dizer que, neste ano hidrológico, choveu apenas metade do que é normal para a época. Só em maio, a precipitação ficou-se pelos 13%. Mês que fica também nos registos como o mais quente de sempre, com uma anomalia da temperatura média do ar de mais 3,47ºC.
Mas o ano hidrológico não se faz apenas com maio. Para trás, fica o terceiro fevereiro mais seco e décimo mais quente desde 1931; o quinto mês de janeiro mais quente deste século e o sexto mais seco desde que há registos; quarto dezembro mais quente de sempre; o novembro mais seco dos últimos 90 anos e o outubro com o quinto valor de temperatura máxima mais alto desde 2000. Deitando por terra o sexto março mais chuvoso deste século.
Mudanças na agricultura
Com o verão à porta, a Comissão Permanente da Seca reúne-se para a semana, podendo o Governo avançar com mais restrições (ler ao lado). "O que antes era uma situação excecional que se resolvia com medidas excecionais, hoje em dia é uma nova realidade, com secas quase todos os anos", diz, ao JN, Joaquim Poças Martins.
Se graças "a um sistema de abastecimento de água construído na década de 90, as pessoas continuam a ter água nas torneiras, mesmo que não chova", nos campos a situação é "mais séria". A agricultura, defende o diretor da secção de Hidráulica da Faculdade de Engenharia do Porto, "terá que se adaptar". Mudando "práticas agrícolas, abandonando determinadas áreas e alterando culturas". Para a recorrência de secas, Poças Martins aponta "duas armas: a dessalinização e a reutilização".