Crise climática: temperatura média global subiu 1.15.º C e a taxa de aumento do nível do mar duplicou.
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É um "sinal de socorro do planeta" a que devemos responder com "ambição e credibilidade". O tweet, de ontem, é de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. No dia em que arrancou, no Egito, a COP27 (Conferência das Partes sobre o Clima), com dados inequívocos da crise climática que enfrentamos. Ao estimar-se em 1.15.º C a subida da temperatura média global face ao período pré-industrial. Bem perto da meta de 1.5.ºC do Acordo de Paris.
As estimativas são da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), com o seu secretário-geral Petteri Taalas a avisar: "Quanto maior o aquecimento, piores os impactos. Temos, agora, níveis tão altos de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera que os 1.5.º C mais baixos do Acordo de Paris mal estão ao alcance". Os números confirmam a "crónica do caos climático", como lhe chamou Guterres.
Os anos 2015 a 2022 deverão ser os oito mais quentes de sempre. Sendo que, entre 2013/2022, a temperatura média global terá subido 1.14.º C face ao período pré-industrial, que compara com os mais de 1.09.º C entre 2011/2020. Com os gases com efeito de estufa a registarem novos recordes em 2021. Só a concentração anual de metano foi a maior de sempre. E os dados mostram que as emissões de CO2, metano e óxido nitroso continuam a aumentar neste ano.
Degelo a acelerar
A taxa de subida do nível do mar duplicou desde 1993, tendo crescido perto de 10 milímetros desde janeiro de 2020, um novo recorde.
"Só os últimos dois anos e meio são responsáveis por 10% da subida do nível do mar, desde que as medições por satélite começaram há quase 30 anos", diz a OMM. Uma aceleração que se deve ao degelo. Com a camada de gelo da Gronelândia a perder massa pelo 26.º ano consecutivo. Pela primeira vez em setembro, choveu em vez de nevar. Na Suíça, 6% do volume de gelo perdeu-se nos dois últimos anos.
Registando-se, ainda, no ano em curso um aumento de fenómenos meteorológicos extremos, como o Reino Unido a ultrapassar, pela primeira vez, os 40.º C; ou as trágicas cheias no Paquistão; ou a grave seca na Somália, Etiópia ou Quénia.
Dados em cima da mesa das negociações dos quase 200 países presentes na COP27. Depois de a última Conferência das Partes, que teve lugar em Glasgow, ter terminado com um pedido de desculpas emocionado do seu presidente, pelo facto de, à última hora, a Índia ter desfeito a resolução do carvão. Levando o secretário-geral das Nações Unidas a falar em falta de "vontade coletiva política". Com o financiamento aos países mais pobres por perdas e danos decorrentes das alterações climáticas sucessivamente adiado. Ontem, foi aprovada a sua inclusão na agenda da COP.
À Margem
Costa presente
O primeiro-ministro participa, esta segunda e terça-feira, na cimeira de líderes da 27.ª Conferência das Partes, com uma agenda dedicada às questões da seca e transição energética. António Costa intervém na sessão plenária de terça-feira, tendo ainda previstos vários encontros bilaterais. Faz-se acompanhar pelo ministro do Ambiente.
"Ponto de viragem"
A COP arrancou, este domingo, com a eleição do novo presidente, o ministro egípcio Sameh Shukri. Comprometendo-se a fazer todos os esforços para que o encontro seja "um ponto de viragem na concretização da ação multilateral coletiva".
Cumprir Paris
Na sua rede no Twitter, o presidente da Assembleia da República disse esperar decisões desta COP, porque "temos de fazer muito mais para cumprir o Acordo de Paris e apoiar os países mais vulneráveis", escreveu Augusto Santos Silva.
O que saiu de Glasgow
Na última COP, em Glasgow, os países salvaguardaram os princípios do Acordo de Paris, reafirmando esforços para cumprir a meta de conter o aquecimento global em 1,5 graus Celsius até 2100. Para o efeito, reconheceram a necessidade de reduzir, até 2030, em 45% a emissão de gases com efeito de estufa.