Os dias de Luís Filipe Santos estão a tornar--se cada vez mais sofríveis. Com a mulher e duas filhas a cargo, só ele tem emprego e este já conheceu melhores dias. O ordenado mínimo que ainda recebe não estica e não fosse a ajuda da família a realidade seria ainda mais dura. "Tentar outra sorte no estrangeiro" começa a fazer parte dos seus planos.
Corpo do artigo
Pouco passava do meio-dia e meia hora de ontem. Luís, 36 anos, chegou à casa que habita no bairro social da Barroca, em Murça. À espera, a mulher Ana Paula, da mesma idade, e a filha de sete anos. A bebé de um ano dormia. É por estas duas últimas que ele anda mais aflito. "Porque lhe quero dar um futuro melhor que o meu, mas com o que a vida custa e com o que ganho não vejo jeitos". A casa comercial onde trabalha, garante, também luta com dificuldades "porque faz-se pouco negócio". Por isso não hesita em afirmar que "o posto de trabalho já não é seguro".
Das notícias da crise que lhe chegam pela Comunicação Social é o desemprego o que mais os preocupa. "Bem gostava de arranjar um trabalho mais isto não está fácil", lastima Ana Paula. O último que teve foi num restaurante, mas depois vieram as filhas e não pôde continuar. Mostra-se disponível para fazer qualquer coisa, mas ainda se confronta-se com outro problema: Onde deixar a filha mais nova. "O dinheiro não chega para a colocar num infantário".
Luís explica que mal recebe o magro ordenado leva sumiço de imediato. "120 euros são para a renda da casa, que sempre paguei a horas". O resto vai nas despesas caseiras. E sem mimos. Quando a mulher trabalhava dava para ter "uma folga", agora "não fosse a ajuda da família e tudo seria muito pior". Ana Paula concorreu a um curso da Câmara, daqueles que são financiados, a ver se tem sorte.