Centenas de pessoas estiveram presentes, este domingo ao final da manhã, na celebração da Páscoa na Sé Catedral do Porto. Foram muitos os estrangeiros, mas também os portugueses, que assistiram à missa que assinalou a ressurreição de Jesus Cristo. O bispo Manuel Linda disse, na homília, que a "fé não foi mais forte e contagiante no princípio do que é hoje". "Falamos em crise na Igreja e também se fala em crise do Mundo e da civilização", adiantou.
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Antes, durante e depois da missa da Páscoa, marcada para as 11 horas deste domingo, foram muitos os que se sentaram nos bancos da Sé do Porto para assistir à celebração religiosa. Outros tantos - sobretudo turistas de passagem pela cidade - fizeram uma visita fugaz, de telemóvel em punho, para imortalizar em fotografia a magnitude do edifício. Há quem captasse, com toda a atenção, em vídeo os cânticos entoados pelo coro.
Atenta a tudo o que se passava esteve a filipina Winnie Nazareth, que assistiu emocionada a toda a celebração. "Estou aqui em representação de todas as pessoas que estão doentes", disse a turista, que agora vive no Canadá e assume-se uma católica devota. Já depois da cerimónia, ainda tirava fotografias ao altar com um "selfie stick".
Minutos antes, na homília, Manuel Linda não abordou os recentes casos suspeitos de abusos sexuais de menores por parte de elementos da Igreja Católica, denunciados através de uma comissão independente e que já resultaram no afastamento de vários padres. Na quinta-feira, na homília da missa crismal, que reúne o clero diocesano com o bispo do Porto, o clérigo não ignorou o assunto e assumiu que "há que fazer penitência pelas culpas do passado e do presente".
"Pelos abusos de poder de quem os encobriu, pelo clericalismo de clérigos e de leigos, pela ignomínia de quem cometeu esses crimes e pelo despudor de quem eventualmente possa ter usado o anonimato para fazer acusações mal fundadas ou falsas", apontou Manuel Linda a 6 de abril.
Crise na Igreja
Este domingo de Páscoa e perante uma plateia repleta de estrangeiros, o bispo do Porto referiu que "o ser humano sempre projetou e projeta a salvação que não encontra em si mesmo". "A dimensão religiosa explícita (...) é inerente à nossa natureza. Então porque (...) falamos em crise na Igreja? Aliás também se fala em crise do Mundo e em crise da civilização. Pode ser porque pensamos num horizonte temporal muito curto", referiu.
"Creio que a crise não reside tanto no número de praticantes. (...) Se apresentamos ao Mundo um Deus do qual sabemos tudo, um Deus dominado pela nossa inteligência, como fez a época moderna, então deixamos escapar a verdade indisponível sobre Ele", rematou. Mais tarde, à saída da cerimónia, em declarações aos jornalistas, Manuel Linda remeteu-se a dizer que "a nossa meta é a santidade" e a "melhoria, tal como em qualquer época da nossa História".
Carmen Neves, residente em Gaia, vem todos os anos com a família à celebração da Páscoa, na Sé do Porto. Ao JN, confessa que é "bom" ver a cerimónia tão repleta de "gente nova", sobretudo tendo em conta as recentes polémicas que envolvem a Igreja Católica em Portugal. Stela Ângelo, moçambicana a estudar em Coimbra, veio de propósito ao Porto com duas amigas para assistir à missa da Páscoa. Pela primeira vez na Sé, a jovem gostou de ver tantas "culturas diversas" a assistir à missa.
O domingo de Páscoa é uma das datas mais importantes para a vida dos cristãos de todo o Mundo, já que assinala a ressurreição de Jesus Cristo. Na missa de Páscoa, no Vaticano, o Papa Francisco condenou, este domingo, os muitos "obstáculos" que impedem a paz mundial e expressou "profunda preocupação" pela violência no Médio Oriente. Na passada quarta-feira, a polícia israelita irrompeu de forma violenta na mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, e retirou os palestinianos que estavam em oração.