Quase 60 alunos escolheram Portugal como local de acolhimento para o programa de intercâmbio da associação Intercultura AFS. Os jovens vão ficar com famílias de acolhimento em oito distritos. Ainda são precisas 15 famílias voluntárias.
Corpo do artigo
Oriundos de 20 países, o primeiro grupo de 36 alunos chegou em meados de setembro. A associação Intercultura AFS explica, em comunicado, que “estes jovens serão acolhidos, voluntariamente, por famílias portuguesas, de norte a sul do país, que estão prontas para abrir as suas portas e corações a um(a) estudante”.
No início de outubro vai chegar o segundo grupo de 20 estudantes. A associação explica que para cada um dos alunos “foi necessário encontrar uma família de acolhimento que recebesse o/a estudante em casa durante o tempo do seu intercâmbio. (…) No entanto, a Intercultura AFS ainda precisa de cerca de 15 famílias de acolhimento para dar as boas-vindas ao nosso país e partilhar a nossa cultura”.
“Ser uma família de acolhimento é um ato voluntário, movido pelo desejo de entrar em contacto com diferentes referências culturais e contribuir para o desenvolvimento da competência global”, explica o comunicado. As famílias de acolhimento são auxiliadas por voluntários, núcleos locais AFS, e ajudam os estudantes a integrarem-se nas suas novas escolas e na comunidade, um papel voluntário e não remunerado.
Helder Abreu, engenheiro eletrotécnico e residente em Leiria, é pai de acolhimento há cinco anos e a decisão de acolher jovens em intercâmbio surgiu por querer “trazer culturas diferentes” para a sua vida e para a dos seus quatro filhos. Explica ao JN que esta experiência é “decisiva para o crescimento” deles.
Por causa desta experiência, os seus filhos “veem o mundo como um sítio diferente, com pessoas, irmãos, que conhecem outros países. Para eles o mundo é uma região sem fronteiras e é um mundo pequeno. Para além de desenvolverem competências culturais desenvolvem também as línguas, já são quase fluentes em inglês”. Conta ainda que a experiência deste projeto ajudou um dos seus filhos, que vai seguir o ensino superior nos Estados Unidos da América.
"São família"
A associação AFS explica, no seu site, que as famílias de acolhimento não têm responsabilidades financeiras para com o aluno e que, normalmente, a família do estudante fornece uma mesada ao mesmo. Helder Abreu conta que “é feito um investimento mas não através de mesadas ou materiais escolares”. A família dá comida em casa, produtos de higiene, mas “não há fronteira no que se gasta”.
Para Hugo Campos, residente em Alvito, no Alentejo, e pai de acolhimento pela terceira vez, diz que a ideia de acolher surgiu com uma aluna da sua escola de culinária, Feed Me, em Lisboa, que levou a sua filha de acolhimento a uma aula.
Hugo Campos e a sua mulher perceberam que, sem o seu único filho a morar em casa, tinham um quarto extra e, com as sobras da escola de culinária, tinham comida suficiente para ter mais uma pessoa em casa. Assim, decidiram embarcar nesta jornada com a “vontade de receber e partilhar a cultura portuguesa”.
Hugo Campos explica que “todas as pessoas são diferentes, cada aluna tem as suas características” e que, embora no passado tenham tido uma experiência menos agradável, a aluna que estão agora a receber tem-se mostrado “muito curiosa” pela cultura portuguesa. Esclarece que a relação entre pais de acolhimento é diferente da que se tem com os pais biológicos, porque existe o sentimento de “vergonha”.
“Os pais biológicos da estudante que recebemos agradeceram-nos: por causa da vergonha que ela tem de ainda não nos conhecer, fizemos com que comesse mais do que os dois únicos tipos de comida que comia com a sua família biológica”, conta.
Ambos os pais de acolhimento recomendam a experiência aos seus amigos e afirmam que os enriquece culturalmente. “Desde o princípio temos de tratar estes jovens como nossos filhos, assim como gostaríamos de ver os nossos filhos noutro país. Não podemos tratar estes jovens como convidados, porque não o são: são família”, conta Helder Abreu.
As famílias que vão acolher os alunos encontram-se no distrito de Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal e Faro.
Este ano, houve um total de 56 alunos que escolheram Portugal como destino para o programa de intercâmbio, sendo que, no início de outubro vão chegar mais 20 estudantes. Em geral, os alunos têm entre os 15 e 18 anos e vêm da Alemanha, Canadá, Chile, Dinamarca, Estados Unidos da América, França, Noruega, Hungria, Itália, República Checa, Tailândia, Turquia, entre outros.
O Programa de acolhimento Famílias Globais AFS da associação Intercultural AFS proporciona “uma experiência imersiva de aprendizagem intercultural na qual todos os envolvidos terão a oportunidade de se conectar com novas referências culturais e adquirir competências de valorização da diversidade, preparando-se para uma sociedade cada vez mais globalizada”.