Comissão de vacinação aguarda mais dados para decidir segunda dose de AstraZeneca, mas a DGS reitera a possibilidade de administrá-la fora da idade indicada, se o utente consentir.
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A administração de diferentes vacinas contra a covid-19 na segunda toma está a ser estudada pela Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 e os resultados deverão ser conhecidos ainda este mês. Só depois será possível emitir novas orientações para os menores de 60 anos já inoculados com a primeira dose da AstraZeneca.
Por enquanto, há duas opções em cima da mesa: os vacinados podem dar o seu consentimento e completar o esquema vacinal ou aguardar novos dados sobre a mistura de vacinas produzidas por diferentes laboratórios.
Para o coordenador da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19, esta poderá ser "uma alternativa válida". Até porque, explicou esta quarta-feira Válter Fonseca na Assembleia da República, os ensaios clínicos mostram que a proteção conferida pela vacina mantém-se além das 12 semanas de espaçamento entre as duas doses da AstraZeneca.
"Aquilo que está a ser considerado, em linha com os cenários que a própria Agência Europeia de Medicamentos considerou, é uma vacina de outra marca. Os dados e os estudos, pela experiência de outras vacinas, mostram-nos que [a mistura de vacinas] é uma estratégia defensável", afirmou Válter Fonseca, sublinhando que, para maiores de 60 anos, a segunda dose da AstraZeneca é recomendada.
Doses ficarão por usar
Também Graças Freitas, diretora-geral da Saúde, reiterou esta quarta-feira a possibilidade de administrar as vacinas da Janssen e da Astrazeneca fora da idade indicada, mediante o "consentimento informado" por parte do utente. Atualmente, os fármacos são recomendados para maiores de 50 e 60 anos, respetivamente.
"As pessoas serão esclarecidas de que vão levar aquela vacina, receberão um folheto com toda a informação necessária e, se decidirem ser vacinadas, serão vacinadas. Se decidirem aguardar por novos dados, então serão convocadas, depois, para a vacinação", adiantou Graça Freitas, alertando que "o risco [de reações adversas] é mínimo".
As restrições de idade, impostas às vacinas, foram explicadas pela Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19. De acordo com Válter Fonseca, "todas as avaliações são feitas país a país", olhando para a existência de vacinas alternativas e para uma relação de risco-benefício. O coordenador lembrou, ainda, que o número de vacinas já contratualizadas por Portugal superam o número de pessoas elegíveis para vacinação, pelo que algumas doses podem não ser utilizadas.
Quanto a um eventual reforço dos esquema vacinal com uma terceira dose, José Gonçalo Marques, coordenador-adjunto da comissão técnica, garantiu que ainda nada está definido. Mas admitiu que, em certos casos, poderá ser necessária.
"O que pode ser analisado são estratégias diferentes consoante a resposta à vacinação. Algumas imunodeficiências em que há uma resposta parcial [à vacina] ou idosos em que a resposta é menos duradoura poderão beneficiar [de uma terceira dose], mas ainda não é sabido", explicou José Gonçalo Marques, salientando que o objetivo último é "prevenir a morte e doença grave" e que "ainda não se sabe qual é o título de anticorpos que nos dá essa confiança".
Recuperados
A Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 recomenda que a inoculação das pessoas que já estiveram infetadas com covid-19 seja feita seis meses após a infeção e a recuperação. "A razão deste período de tempo reflete os estudos que nos têm vindo a demonstrar a robustez da imunidade adquirida pela infeção natural", justificou Válter Fonseca.
Imunidade em análise
Segundo Luís Graça, especialista da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19, a percentagem de 70% para alcançar a imunidade de grupo pode ser revista, existindo estudos em curso quanto à percentagem de imunidade e sobre o impacto das vacinas na transmissão global da infeção.
Protegida de variantes
De acordo com o médico Luís Graça, até agora "todas as vacinas conseguem conferir alguma proteção" contra as variantes de covid-19 já identificadas. No entanto, esta monitorização tem de ser feita ao longo do tempo.
Rt desce e dois óbitos
A incidência e o índice de transmissibilidade (Rt) baixaram esta quarta-feira ligeiramente, no dia em que Portugal registou mais dois mortos associados à covid-19 e 387 novos casos. Há 297 hospitalizados.