CDS-PP faz derradeiro apelo "à veia humanista" dos socialistas. Secretário-geral adjunto anuncia voto contra, mas direção da bancada não conta com mais de 10 oposições. Votação dos autores dos cinco diplomas deverá ser suficiente para aprovar a despenalização. Entre o PSD, antecipam-se seis posições favoráveis, incluindo de Rui Rio
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É o tudo ou nada para impedir que, amanhã, o Parlamento aprove a despenalização da eutanásia, dois anos depois de uma primeira tentativa falhada. O CDS-PP apelou à "veia humanista" dos deputados do PS, aproveitando a brecha que se abriu com o anúncio do voto contra do secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro. Mas a direção da bancada socialista estima que não sejam mais do que dez os votos contra. O que quer dizer que os cinco partidos com iniciativas legislativas serão suficientes para aprovarem a despenalização da morte e do suicídio assistido.
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Há dois anos, os diplomas do PS, BE, PAN e PEV foram rejeitados, apesar de apenas terem saído dois votos contra da bancada socialista: Miranda Calha e Ascenso Simões, que se mantém contra, por temer que a eutanásia seja "um caminho" sem "retorno". "Compreendo que, em muitas circunstâncias a dor e o sofrimento são elementos que podem levar à desmotivação da vida. Mas as sociedades organizadas, adultas e modernas devem encontrar as formas adequadas para resolver", crê Ascenso Simões.
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Ao seu lado terá Romualda Martins, o ex-autarca de Leiria Raul Castro e o presidente da Associação Nacional de Freguesias, Pedro Cegonho, que se recusa a antecipar os seus motivos. Já o secretário-geral adjunto do PS reconhece que os cinco diplomas, que serão votados amanhã no Parlamento, "procuram garantir o respeito pela autodeterminação" e pela "vontade individual". Mas, para José Luís Carneiro, são os "valores" que devem falar mais alto. Por isso, votará contra.
Votação final até ao verão
São em brechas como estas - a par de deputados em reflexão, como Marcos Perestrello e Pedro do Carmo - que reside a derradeira esperança do não. Ontem, o líder do CDS-PP apelou à "veia humanista" dos deputados do PS, após um encontro com a direção socialista.
"Faço um apelo à veia humanista do PS para que, no debate sobre a eutanásia, possa afirmar o valor da vida contra uma cultura de morte e de descarte", exortou Francisco Rodrigues dos Santos.
A líder da bancada socialista, porém, acredita que não serão mais do que dez os votos contra numa bancada com 108 deputados. Ana Catarina Mendes está, assim, otimista: "A ideia é proceder-se-à votação final global nesta sessão legislativa".
Os cinco diplomas têm garantidos os 26 votos favoráveis de BE, PAN, PEV e Iniciativa Liberal e os 15 contra das bancadas do CDS-PP e do PCP. O "jogo" decide-se, assim, nas bancadas com liberdade de voto: nos 108 deputados do PS e 79 do PSD. Ou seja, pelas contas de Ana Catarina Mendes, serão aprovados com cerca de 130 votos.
Rio a favor, Silvano contra
Em 2018, a eutanásia abriu uma brecha no PSD, com seis votos a favor. Duarte Marques, Cristóvão Norte e Margarida Balseiro Lopes deverão repetir o voto favorável.
Mas o "coração" dos sociais-democratas está dividido. Rui Rio já anunciou que vota a favor, no uso da sua liberdade individual, tal como o número dois na bancada, Adão Silva. Mas o secretário-geral, José Silvano, vota contra, bem como Pedro Rodrigues, antigo líder da JSD, que irá à manifestação de amanhã pró-referendo.