Ao longo de cinco horas de audição, Frederico Pinheiro negou o roubo de um computador e as agressões a elementos do gabinete do ministro das Infraestruturas, disse que João Galamba o ameaçou com "dois socos" e insistiu que todos sabiam que tinha tirado notas da reunião de 17 de janeiro, entre a ex-CEO da TAP e deputados do PS.
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O sr. ministro das Infraestruturas ameaçou-me fisicamente. Isso é comprovado se houver acesso a essa chamada
Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro das Infraestruturas, acusou João Galamba de ter ameaçado dar-lhe "dois socos" quando o despediu por telefone, levando a Direita em peso - PSD, Chega e IL - a voltar a exigir a demissão do governante. Este será ouvido pelos deputados nesta quinta-feira.
Na comissão parlamentar de inquérito (CPI) da TAP, revelou que o conteúdo do seu telemóvel sofreu um "apagão" após o ministério ter "ordenado" uma inspeção ao aparelho - que ficou na CPI e será entregue à Polícia Judiciária. Também admitiu processar Galamba e o primeiro-ministro, por o terem "injuriado e difamado".
Frederico Pinheiro negou ter roubado um computador e agredido funcionárias do gabinete de Galamba. As alegadas agressões prometem ainda vir a dar que falar, até porque, durante a audição, cinco membros do gabinete emitiram uma nota a acusar o ex-adjunto de mentir, assegurando que as imagens de videovigilância mostrarão o "estado de cólera" em que este se encontrava. O Chega já pediu que sejam enviadas à comissão de inquérito.
"Intimidação e ameaça"
Tomando conhecimento da nota, Pinheiro admitiu que ficou "muito ansioso" quando foi ao ministério buscar o computador. Dizendo não ter sido "agressor" e sim "agredido" - e ter um relatório médico que o prova -, atribuiu a agitação ao facto de o terem "sequestrado" para que não levasse o portátil.
É inverosímil achar-se que eu não tinha notas de uma reunião tão importante como aquela [de 17 de janeiro, entre a ex-CEO da TAP e o PS]
O ex-adjunto, que garantiu nunca ter tido queixas nos seis anos em que trabalhou no Governo, procurou demonstrar a incoerência dos responsáveis do ministério: acusou-os de, por um lado, terem acionado o SIS para recuperar o portátil com urgência mas, por outro, de nada terem feito para reaver o telemóvel, que lhe dava acesso aos mesmos documentos classificados da TAP (ver ficha). Disse esperar há três semanas que lhe indiquem quando entregar o "minicomputador", como lhe chamou.
Pinheiro acredita que o ministério se interessava pelo portátil porque era lá que estavam as notas da polémica reunião de 17 de janeiro, entre deputados do PS e a ex-CEO da TAP. O ex-adjunto, recorde-se, acusou Galamba de querer mentir à CPI, dizendo que as notas não existiam. "O objetivo do Governo não era a salvaguarda de informação classificada, mas sim a intimidação e ameaça a um cidadão sem poder político", alegou.
"Apagão total" dos ficheiros de Whatsapp
O ex-adjunto garantiu ter sido demitido por Galamba por telefone, a 26 de abril, revelando ter perguntado ao ministro porque não o despedia cara a cara. Questionado por André Ventura, do Chega, sobre se o ministro disse a frase "Não te despeço pessoalmente porque, se estivesses aqui, dava-te dois socos", Pinheiro confirmou.
"Enquanto cidadão anónimo sem poder de decisão, fui ameaçado pelo SIS, fui injuriado e difamado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Infraestruturas"
Enquanto cidadão anónimo sem poder de decisão, fui ameaçado pelo SIS, fui injuriado e difamado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Infraestruturas
O ex-adjunto revelou que a chefe de gabinete de Galamba, Eugénia Cabaço, "ordenou uma intervenção" no seu telemóvel para tentar recuperar as mensagens trocadas com a ex-CEO da TAP sobre a reunião de janeiro, já que estas eram apagadas ao fim de dias. Mas o seu arquivo do Whatsapp terá sofrido um "apagão total", após a intervenção de um informático. Vários deputados vincaram a ilegalidade da operação.
Pinheiro disse ter ficado "chocado" ao ouvir Galamba e Costa acusarem-no de roubo. Questionado sobre se os irá processar, respondeu: "Ainda não tomei uma decisão".
Sugeriu classificação dos ficheiros
"Todos os documentos classificados foram-no por minha sugestão", disse Frederico Pinheiro, referindo-se aos ficheiros presentes no seu computador. Sugeriu a classificação de dez, só um não o foi. Dizem respeito à TAP.
"Intimidado" pelo SIS
"Nunca imaginei ser contactado por alguém do SIS", relatou, dizendo ter-se sentido "intimidado".Confirmou que o agente lhe disse estar a ser "muito pressionado de cima" para que Pinheiro devolvesse o portátil, tendo repetido a "ameaça" por três vezes.
Dedo a Galamba
O ex-adjunto disse que houve três elementos que o "surpreenderam" num comunicado de 6 de abril do ministério:a omissão da reunião de 16 de janeiro (na qual estiveram Galamba e a ex-CEO da TAP), a omissão do papel "ativo" de Galamba na preparação da reunião de 17 e o facto de o seu nome ser referido. "A partir daí passei a poder ser chamado à CPI", disse.
Escondidas da polícia
Disse ter sido ele a chamar a PSP ao ministério por estar a ser "sequestrado". Levantou a hipótese de as colegas se terem escondido na casa de banho para evitarem ser confrontadas pela polícia.
Encontro com a PJ
Já depois de ter entregue o computador ao SIS, a Polícia Judiciária foi ao seu encontro.