A chefe de gabinete de João Galamba relatou aos deputados, esta quarta-feira, que pediu uma chamada ao SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa) para reportar o alegado roubo de um computador do Estado por Frederico Pinheiro. Mais tarde, disse, recebeu uma chamada do SIS (Serviço de Informações de Segurança) sobre o mesmo assunto. Eugénia Correia, que está a ser ouvida na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, garante que seguiu "indicações anteriores" de que é assim que se deve proceder.
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O acionamento do SIS está ser alvo de várias perguntas pelos deputados da comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, depois de cinco horas de audição a Frederico Pinheiro, o adjunto exonerado por João Galamba. Eugénia Correia referiu que "pediu uma chamada para o SIRP" e acabou a receber outra do SIS. O conteúdo da chamada serviria para informar que tinha sido levado um computador do Estado, com documentos classificados, onde constava "informação relevante" sobre a TAP.
Eugénia Correia explicou que, por trabalhar na área das Infraestruturas, vista como "crítica" para o país, "tem indicações para atuar" - nomeadamente ligar ao SIRP - quando há situações de "eventual risco". A seu pedido, a secretária do ministério ligou para a secretaria-geral do Conselho de Ministros para ter o contacto do SIRP. Eugénia Correia foi contactada mais tarde, segundo a sua versão, pelo SIS para reportar o que tinha acontecido no ministério. Escusou-se a dar mais detalhes sobre o assunto, remetendo as explicações para a reunião que aconteceu à porta fechada com os deputados e os responsáveis das Secretas.
A chefe de gabinete rejeita, como afirmou Frederico Pinheiro na anterior audição, que um elemento do ministério tenha mexido no telemóvel do ex-adjunto. Na sua versão dos factos, foi Frederico Pinheiro que, com a ajuda de um técnico de informática, tentou instalar no telemóvel um programa para recuperar as mensagens trocadas com a então CEO da TAP, a propósito da reunião de Christine Ourmières-Widener com os deputados socialistas, que alegadamente terá um sistema que acaba as mensagens automaticamente ao fim de algum tempo. Pelo contrário, o ex-adjunto alega que todo o arquivo e mensagens no WhatsApp foram eliminadas propositadamente.
Houve "vários murros"
Sobre o episódio das alegadas agressões, no dia 26 de abril, no edifício do ministério, Eugénia Correia relata ter agarrado a mochila de Frederico Pinheiro, onde estava o computador do Estado. O ex-adjunto, conta a chefe de gabinete de Galamba, deu-lhe um "murro". Paula Lagarto, uma das assessoras do ministério, que agarrou também a mochila do ex-adjunto, "recebeu vários murros". Depois há ainda uma outra assessora, Rita Penela, que tenta impedir que o membro exonerado leve o equipamento.
Eugénia Correia alega que Frederico Pinheiro não tinha legitimidade para levar o computador do Estado, porque não era um bem "pessoal". A chefe de gabinete diz que João Galamba, que também contactou a PSP, foi informado do que tinha acontecido na tutela após as agressões.
Além de Frederico Pinheiro, que contactou as autoridades, Eugénia Correia afirma que houve "duas chamadas para o 112" pelo segurança do edifício, uma chamada pelo 112 por Rita Penela e uma chamada para a PSP pela engenheira Cátia Rosas, técnica especialista do ministério. Eugénia Correia diz não saber quem impediu a saída de Frederico Pinheiro do edifício da tutela.
Os elementos do gabinete de João Galamba refugiaram-se na casa de banho, depois de ouvirem "barulhos" na entrada do edifício, onde ainda estaria Frederico Pinheiro. Foi naquele local, segundo Eugénia Correia, que esperaram pela chegada das autoridades. Já sobre as câmaras de videovigilância do edifício, Eugénia Correia disse que há uma câmara no quarto piso, onde disse que ocorreram as agressões, mas não funciona.
Negada intenção de esconder notas de ex-adjunto
A chefe de gabinete de João Galamba negou também qualquer intenção de esconder notas sobre reuniões à comissão de inquérito à TAP, afirmando que o ministro desconhecia a sua existência até 24 de abril, contrariando a versão do ex-adjunto do ministro.
Durante as perguntas do deputado da IL Bernardo Blanco, foi trazida a questão sobre as notas de uma reunião preparatória com o Grupo Parlamentar do PS da audição na comissão de economia da ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, e que Frederico Pinheiro acusou João Galamba de ter querido ocultar à comissão de inquérito.
A chefe de gabinete de João Galamba, numa longa exposição dos factos, contrariou a versão do ex-adjunto, assegurando que na reunião que foi realizada após a audição da ex-CEO da TAP -- na qual garante que João Galamba não esteve presente "ao contrário" do que disse Frederico Pinheiro, perguntou ao adjunto exonerado "o que tinha acontecido" nesse encontro e este respondeu que "não se lembrava" e que não havia notas.
"Quando tomei conhecimento de que afinal havia notas, solicitei a Cátia Rosas que as pedisse, mas que pedisse o ficheiro informático em que as mesmas foram feitas porque o ficheiro permitiria pelo menos verificar que tinham sido feitas no dia 17 de janeiro. Frederico Pinheiro não entregou o ficheiro informático, mas um papel", referiu.
Eugénia Correia assegurou que não houve "nenhuma intenção de esconder quaisquer notas que até ao dia 24 de abril" nem ela nem João Galamba sabiam que existiam.