Dispositivos de segurança dispararam com sobretensão e rede falhou em toda a linha.
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O excesso de energia fotovoltaica em Espanha pode estar por detrás do apagão ibérico, sobretudo num dia de calor e de maior produção solar. Ao que tudo indica, a sobretensão na rede fez disparar os dispositivos de proteção que levaram à perda de energia.
A Red Elétrica espanhola explicou que a origem do apagão de anteontem se deveu a um desequilíbrio entre a oferta e a procura de energia. Um desajuste na rede que, segundo o "El Mundo”, já tinha sido registado na semana passada, quando a Repsol emitiu avisos para alguns dos seus principais clientes sobre uma falha abrupta no fornecimento de energia na refinaria de Cartagena, em Espanha.
Os dois episódios, de acordo com fontes citadas pelo jornal espanhol, poderão estar relacionados: o excesso de energia fotovoltaica a superar a procura obrigando a uma resposta por parte do setor energético. As oscilações na rede levaram a que os dois países ficassem sem energia na rede, numa altura em que Portugal importava energia do país vizinho por ser mais barata.
Resposta demorada
A partir da quebra de energia, a reposição foi feita dentro de portas nas centrais com capacidade de arranque autónoma: Tapada do Outeiro e Castelo do Bode. “É a reconstrução do sistema elétrico a partir dessas centrais, onde começamos a ligar linhas, a ligar cargas e a construir o sistema elétrico de uma forma relativamente lenta, garantindo que cada passo na construção é bem solidificado”, detalhou ao JN Bernardo Silva, professor auxiliar da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Ontem, o primeiro-ministro anunciou que quer alargar esta função de “black start” às centrais do Baixo Sabor e a do Alqueva, mas os especialistas notam que isso não significa a resolução do problema num tempo mais curto. “Nada diz que se houvesse uma terceira ou quarta [central], que a reposição de serviços teria sido efetuada em menos tempo”, detalhou Bernardo Silva.
Nuno Ribeiro da Silva, antigo secretário de Estado da Energia, referiu ser “um disparate técnico” dizer que as centrais a carvão fizeram falta, salientado a capacidade de resposta.