Quantidade de flor exportada em 2021 chegou às 30 toneladas. Austrália, França, Reino Unido e EUA são os mercados com maiores subidas.
Corpo do artigo
As exportações de canábis subiram exponencialmente. Em 2020, a quantidade de flor seca exportada, com teor de humidade igual ou inferior a 10%, foi de 4,5 toneladas. Em 2021, o valor atingiu as 30 toneladas, ou seja, um crescimento de 566%, de acordo com o Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento.
Há mais empresas a escolher Portugal para instalar as explorações e o produto colhido vai praticamente todo para fora.
O valor das exportações deve ser superado este ano, já que só entre janeiro e fevereiro foram feitas vendas de 10 toneladas de canábis. Os mercados que mais crescem são a Austrália, França, Reino Unido e EUA, ao passo que Israel e Canadá continuam a ser dos destinos com maior volume de vendas.
Os números também se explicam por esta ser uma indústria que investe um largo tempo inicial, um a dois anos, em pesquisa e investigação, e só depois avança para a parte comercial, e a lei que autoriza o cultivo e exportação de canábis só entrou em vigor em fevereiro de 2019.
clima dita vantagem
Existem em Portugal 18 empresas com autorização para cultivar canábis para fins medicinais, quase todas com plantações entre o Alentejo e o Algarve, e o aumento de pedidos de licenciamento prende-se sobretudo com o clima. Estações do ano pouco rigorosas e uma boa exposição solar são determinantes. "Podemos cultivar o ano todo e isso é absolutamente crítico para o negócio", explica Andres Fajardo, presidente da Clever Leaves, uma empresa colombiana que investiu cerca de 30 milhões de euros numa produção no Alentejo e que está a construir uma unidade de transformação em Setúbal. "Portugal, à medida que a indústria se desenvolver, vai manter a vantagem competitiva, enquanto outros países estão a tentar entrar na corrida, mas ainda ficam para trás", defende. A empresa foi a primeira a introduzir canábis "made in Portugal" no mercado norte-americano, com o envio de uma remessa de 30 quilos, em outubro de 2021.
https://d23t0mtz3kds72.cloudfront.net/2022/03/exportacoes_canabis_portugal_20220323170304/mp4/exportacoes_canabis_portugal_20220323170304.mp4
A forte regulamentação que existe, desde o cultivo até à gestão de resíduos, é outro dos motivos apontados para a escolha de Portugal. Um controlo apertado que dá garantias de segurança e qualidade aos possíveis compradores - os grandes laboratórios de produção de medicamentos.
"Prevemos que as nossas receitas globais com a canábis dupliquem ou até quintupliquem, em comparação com 2021, o que é um crescimento muito significativo, e uma grande parte desse crescimento dever-se-á à nossa operação em Portugal", acrescenta Andres Fajardo.
"Na Grécia a eletricidade é muito cara, em Itália há negócios com os quais não te queres envolver. Espanha e Portugal são os melhores países para cultivar, em estufas ou ao ar livre", explica Olaf Van Tulder, diretor-executivo da Symtomax, uma empresa nacional, de capitais estrangeiros, sobretudo ingleses, das últimas a entrar no mercado. O holandês defende que há uma "luta contra o mercado negro", que só pode ser ganha se as empresas "produzirem o ano todo, com o custo mais baixo", o que é possível graças ao clima ameno do Sul do país.
Saber mais
Uso terapêutico em Portugal
Apenas um produto
Existe apenas um produto à base da planta da canábis à venda em Portugal, da empresa canadiana Tilray. É vendido em sacos de 15 gramas e custa 150 euros.
Indicações médicas
São sete as indicações terapêuticas para uso de canábis: espasticidade associada à esclerose múltipla; estimulação de apetite nos cuidados paliativos; náuseas e vómitos em tratamentos oncológicos ou com sida; dor crónica; síndrome de Tourette; epilepsia e glaucoma.
Uso recreativo em debate
A Alemanha é um dos países onde o uso recreativo da canábis pode vir a ser aprovado em breve. Em 2016, foi licenciado o uso para fins medicinais e o Governo quer agora alargar a sua utilização.
Dados
O Infarmed recebeu nove pedidos de autorização de preparações com canábis. Um foi aprovado, um está em análise e um outro em avaliação.