
Falta de mais de 200 carteiros no Norte motiva atrasos
Natacha Cardoso
Contas da água e da luz a chegarem fora do prazo de pagamento e vales postais com o dinheiro das reformas a serem entregues mais tarde do que o previsto. Tem sido esse o panorama, nos últimos meses em vários pontos do país. Tudo devido aos atrasos na entrega de correspondência por parte dos CTT.
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Por outro lado, há carteiros à beira de atingir o limite da exaustão, que até das horas de pausa têm que prescindir para conseguirem dar conta do volume de trabalho e que chegam a ser agredidos verbalmente na rua. É que, só na zona Norte, segundo o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), faltam mais de 200 profissionais.
"As nossas dificuldades são bem percetíveis no dia a dia. As pessoas passam alguns dias sem receber cartas e, depois, têm cinco de uma vez", explica Paulo Silva, do SNTCT. Segundo o dirigente sindical, em causa está a "falta de recursos humanos" - pois "na Zona Norte faltam mais de 200 carteiros" - e o método de distribuição implementado pelos CTT, há cerca de um ano. "O correio normal era entregue dia sim, dia não. Agora, está a ser entregue de três em três dias. Só o prioritário é que se mantém diário. Se uma pessoa receber correio normal à quarta-feira, naquela semana não vai receber mais nada", garante.
Ao que tudo indica, as mudanças na política de distribuição implicaram que cada carteiro passasse a ter uma zona de ação maior, com os percursos a terem sido alterados. Dantes, segundo o dirigente do sindicato, "havia uma distribuição segmentada, com uma parte lenta e outra rápida". "Agora, o "giro" tem três partes: duas rápidas, para correio prioritário, e uma lenta".
Situações "pontuais"
40 carteiros foram contratados recentemente, segundo os CTT, para a Região Norte. A empresa também abriu, há pouco tempo, vagas para uma "bolsa de carteiros", para colmatar faltas de funcionários durante o verão.
Viana do Castelo e Boticas (ver página ao lado) são alguns dos concelhos do Norte considerados "críticos". Mas há outros onde a entrega tardia da correspondência está a deixar carteiros e moradores desesperados. "Isto traduz-se em atrasos nos pagamentos, nas reformas e nas convocatórias para consultas. E depois temos carteiros a serem agredidos verbalmente na rua, pois somos nós o rosto da empresa", adianta o representante do SNTCT, garantindo que os trabalhadores estão "à beira da exaustão, a pegar mais cedo ao trabalho e a sair mais tarde, muitas vezes sem fazerem pausas, para conseguirem dar conta do recado".
Ao JN, os CTT admitiram "alguns constrangimentos pontuais em algumas zonas do país, devido a casos de absentismo, mais sentido com o agravamento da pandemia, e ao período de férias dos colaboradores". Mas garantiram que "estão em constante processo de recrutamento de carteiros" e que, na zona Norte, contrataram "recentemente 40 carteiros e contam com 1500 profissionais".
Segundo a empresa, os CTT têm "os recursos humanos necessários para assegurar a distribuição cumprindo critérios de qualidade". E alegam que as necessidades sentidas também se prendem com o crescimento e com a alteração do perfil do tráfego, "com mais encomendas e menos cartas".
Bloco e PCP defendem regresso à nacionalização
Após uma reunião com o SNTCT, a Direção Regional do Porto (DORP) do PCP afirmou que "o interesse nacional se assegura com a renacionalização dos CTT". Deixaram ainda críticas ao Governo do PS, justificando que o mesmo, recentemente, "promoveu uma alteração à lei postal para beneficiar o concessionário privado (Grupo Champalimaud), a quem prolongou a concessão até 2028. Por seu turno, devido à situação de Boticas, o Bloco de Esquerda endereçou ao Ministério da Economia e do Mar esta questão:. "Considera o Governo que, mantendo-se a degradação da prestação do serviço postal universal, a solução corretiva exigirá a recuperação pelo Estado do controlo público dos CTT?"
