A falta de tradutores na União Europeia (UE) está a ameaçar a utilização das diferentes línguas oficiais, prejudicando, entre outros, o trabalho dos portugueses. Eurodeputados de vários países subscreveram uma carta às instituições, numa iniciativa do PCP. A Comissão respondeu que vai recrutar durante este ano.
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Se não houver tradutores, os eurodeputados portugueses deixam de poder intervir na sua língua. Além disso, baixa a qualidade dos textos e há documentos para votação em plenário traduzidos apenas na noite anterior.
O multilinguismo está consagrado nos tratados. E o Parlamento Europeu (PE) utiliza 24 línguas oficiais, o Português desde 1986.
Mais de 60 eurodeputados de vários países e grupos políticos subscreveram uma carta aberta às instituições europeias, numa iniciativa dos comunistas Sandra Pereira e João Ferreira contra a falta de tradutores e assistentes. A carta aos presidentes do PE, da Comissão Europeia e do Conselho Europeu lembra que, sem tradutores e intérpretes, as instituições da UE não funcionam. Denuncia o impacto na qualidade dos documentos, como textos legislativos, e no bem-estar dos trabalhadores sobrecarregados, exigindo condições.
A Comissão respondeu, prometendo admitir novos tradutores este ano, mas sem adiantar pormenores.
PCP critica cortes orçamentais
Além da carta aberta, Sandra Pereira dirigiu uma pergunta a Bruxelas para saber se conhece as condições dos tradutores e assistentes na Comissão Europeia, tendo em conta o volume de trabalho, e se prevê contratar.
"Em matéria de recrutamento, a Comissão planeia admitir novos tradutores em 2020 e está atualmente a debruçar-se sobre os procedimentos específicos, nomeadamente no que respeita ao calendário e às línguas em causa", lê-se na resposta enviada este mês.
Ao JN, Sandra Pereira disse haver "claras insuficiências nos serviços de interpretação e tradução, que resultam de cortes orçamentais sucessivos, cujo efeito se tem vindo agravar". Dá o exemplo da ausência de interpretação em diversas comissões e delegações. "Se não houver interpretação disponível, os eurodeputados são confrontados com a impossibilidade de intervir em Português", denunciou.
Sem tempo para analisar textos
Além disso, diz serem "cada vez mais os relatórios e pareceres, em várias comissões, que pedem que as alterações aos documentos sejam apresentadas em Inglês". E há documentos de trabalho que não são traduzidos para Português.
"Nas sessões plenárias, muitas vezes os documentos que irão ser votados só estão disponíveis em Português na noite anterior, o que impossibilita a sua análise cuidada e aprofundada", lamenta ainda.
"A informação que nos tem chegado de tradutores e intérpretes não nos descansa, já que existe a possibilidade de transformar os serviços linguísticos em mediadores culturais. Ora, no nosso entender, as competências e as atividades são diferentes", denuncia igualmente o PCP.